Opinião

Heróis de um só poder: como pequenas decisões mudam o mundo

Somos a primeira geração a sentir os efeitos das mudanças climáticas e a última que ainda pode fazer algo a respeito.

Recebi esta pedrada em um evento de inovação e empreendedorismo que participei recentemente em Porto Alegre. No evento, que durou três dias, eu tive a oportunidade de escutar inúmeros empreendedores, empresários, políticos e especialistas falando sobre ESG, sustentabilidade, descarbonização, impacto social e muitos outros termos da moda.

A intensidade e a auto confiança dos discursos me remeteram ao Chapolin Colorado, personagem icônico da infância de milhões de brasileiros, quando dizia frente a qualquer situação de perigo: "Palma, palma, não priemos cânico". Em geral, ele já estava apavorado.

A tentativa de mostrar que os nossos graves desafios ambientais e sociais estão sob controle, sendo pensados pelas mentes mais brilhantes que existem, não me convenceu. A pedrada acima revela que estes desafios são grandes e complexos demais para que poucas pessoas, mesmo que cheias de boas intenções, poder, influência e recursos, e até mesmo com discursos inspiradores, os resolvam.

E agora, quem poderá nos defender?

Enquanto nossos líderes globais se reúnem para tentar um acordo sobre o que fazer com os desafios que enfrentamos, é imperativo reconhecer que o impacto do nosso estilo de vida e das decisões que tomamos em nosso dia a dia, desde as escolhas de consumo até as práticas de conservação, passando pelas questões sociais, detêm um poder significativo para a nossa existência neste planeta.

Esta tomada de consciência pode ficar mais fácil quando nos confrontamos com questionamentos, do tipo: "O quanto é o suficiente? Porque eu corro tanto atrás de símbolos? Quais sentimentos estão por trás desses símbolos? Afinal, corro tanto para chegar onde?" E quando tiramos o olho de nosso próprio umbigo para enxergar a dor do outro.

Fazer deste mundo um lugar melhor, mais justo, sustentável e equilibrado não é tarefa para um super heroi com poderes especiais. É a nossa inconformidade e nossos pequenos atos que irão gerar grandes impactos que permitirão a nossa sobrevivência, tanto agora quanto para as gerações futuras.

Não contavam com a minha astúcia

Um chamado urgente ecoou no sertão do Piaui, clamando por nossa atenção e ação.

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Tal qual o Chapolin Colorado, sem poderes especiais e apavorados pela falta de recursos, de experiência e de habilidades, mas cheios de coragem e movidos pela causa, eu e alguns amigos decidimos fundar o Instituto LUSS, uma organização não governamental dedicada a enfrentar os desafios sociais e ambientais que assolam as comunidades dessa região.

Em cinco anos de existência, tivemos o privilégio de fazer novos amigos no sertão do Piauí, construir mais de 200 cisternas, perfurar alguns poços e implantar sistemas agroflorestais com o propósito de fortalecer o desenvolvimento sustentável dessas comunidades.

O chamado vem a todos e é pessoal e intransferível. Ele pode começar como um sussurro, um desconforto, mas à medida que você começa a prestar atenção nele e especialmente quando você começar a refletir sobre as questões que coloquei acima, o volume aumenta e rapidamente se transforma em um clamor.

Somos heróis de um só poder: o de mudar o mundo com os nossos pequenos atos de grande impacto. Use o seu poder para fazer o mundo de alguém melhor.

* Guto Oliveira é empreendedor, fotógrafo documental, cofundador e presidente da ONG Instituto LUSS, iniciativa finalista do 2º Prêmio Ecoa na Categoria Iniciativas que Inspiram.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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