Opinião

Por que apoiar alunos na transição para o 6º ano melhora desempenho escolar

O período de transição da infância para a adolescência traz mudanças significativas na vida dos estudantes. Ao atingirem os seus 11 ou 12 anos, as transformações físicas e psicológicas se acentuam e cada indivíduo aprende, se desenvolve e estabelece suas relações de múltiplas formas, em uma fase marcada pela sua pluralidade de vivências.

Embora sejam considerados aptos a lidar com certas situações de forma independente, eles ainda carregam características da infância, o que os faz parecer, por vezes, pequenos para assumir tantas responsabilidades.

Quando chegam no 6º ano do ensino fundamental (6º ao 9º ano), a antiga 5ª série, os estudantes vivenciam momentos em que ansiedade e expectativa se misturam diante de um novo cenário: aumento do número de disciplinas, professores e avaliações. Eles precisam se adaptar a novos horários e salas de aula, ou a uma nova escola e, em alguns casos, até a uma nova rede de ensino, passando da municipal para a estadual, dependendo do município onde residem.

Quem se lembra dos desafios desse período tão marcante vai se entusiasmar com a história de Pojuca (BA). Localizada a cerca de 80 quilômetros de Salvador, a cidade investiu em estratégias que mudaram significativamente a maneira como os estudantes ingressam nos anos finais do ensino fundamental e enfrentam o início da adolescência. O município implementou o MAT (Modelo de Apoio à Transição), resultado de uma pesquisa contemplada no edital "Anos finais do Ensino Fundamental: adolescências, qualidade e equidade na escola pública", do Itaú Social e da Fundação Carlos Chagas.

Uma das ações do MAT começa ainda no 5º ano, com estudantes participando de visitas guiadas e de algumas atividades nas turmas do 6º ano. Passam também a ter no 5º ano acesso a professores especialistas - experiência diferente da que estão habituados, com um único professor pedagogo -, assim como oferta de disciplinas variadas e trocas de vivências com os mais velhos. A escola propõe também ações para que estudantes se enturmem com novos colegas e momentos de planejamento mútuo entre os docentes das duas etapas.

A melhora no desempenho educacional já se reflete no censo escolar. A taxa de aprovação nas escolas no município passou de 73,8%, em 2018, para 90,3%, em 2022. O aumento significativo de 16,5 pontos percentuais colocou Pojuca acima da média estadual, que foi de 70,5% para 81,9% no mesmo período.

A iniciativa inspirou outros municípios, como os de Alagoas, que após uma formação aos profissionais das redes sobre ações de apoio à transição para os anos finais, numa parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Ensino, por meio da sua seccional, construíram planos de ação e políticas municipais específicas para este desafio. Em seguida, a Secretaria de Educação do Estado de Alagoas se uniu a este esforço de desenho e implementação.

No município alagoano Maravilha, por exemplo, os gestores de educação estão se empenhando para tornar a transição para o 6º ano mais fluida e tranquila. No início de 2024, a rede municipal realizou um processo de busca ativa, visitando famílias para efetivar matrículas e rematrículas, contando com o acompanhamento de psicólogos e assistentes sociais. O bom planejamento e o apoio customizado permitiram mapear os perfis e analisar cada estudante.

Aqueles que ingressaram nos anos finais em 2024 participaram ainda da Semana do Acolhimento, que incluiu oficinas para minimizar a ansiedade e o medo típicos da transição. Ações como escuta ativa, rodas de conversa entre novatos e veteranos e atividades para promoção e desenvolvimento de habilidades socioemocionais também têm sido eficientes para melhorar a experiência de quem está concluindo o 5º ano.

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As boas práticas das redes municipais de Pojuca e Maravilha revelam o quanto é essencial que outras redes públicas e escolas no país sigam os exemplos, adaptem as estratégias ou criem novas ações de acordo com suas realidades. Esses exemplos demonstram a importância de um compromisso coletivo para garantir que cada estudante inicie essa nova etapa com confiança e autonomia.

Mas para além de iniciativas como as das redes municipais aqui relatadas, a preparação dos nossos adolescentes para a transição requer um esforço intencional de muita colaboração entre União, estados e municípios. No caso dos anos finais do fundamental, em que as matrículas estão praticamente divididas meio a meio entre redes estaduais e municipais no Brasil, essa coordenação é ainda mais urgente.

A qualidade da experiência de chegada nos anos finais do fundamental, lá no 6º ano, pode impactar o restante da trajetória escolar. Investir em estratégias de apoio à transição para o 6º ano significa valorizar as mudanças, preparar e acolher os estudantes na medida em que as atravessam e com elas aprendem. Significa reconhecer que a adolescência não é uma fase a ser superada, e sim vivenciada de maneira plena e com oportunidades.

*Patricia Mota Guedes é superintendente do Itaú Social, mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e em Administração Pública pela Universidade de Massachusetts Amherst, graduada em Ciências Políticas pela Universidade do Arizona do Norte.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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