Opinião

Opinião: qual é o limite da diversidade nas empresas?

Certa vez li que "diversidade e inclusão nas empresas é construir o Brasil do futuro". Fiquei com essa frase comigo.

Já conduzi diversas palestras, treinamentos e workshops para multinacionais, ONGs e outras organizações, e sempre me questiono sobre a ausência nestes espaços daqueles que ocupam posições menos visíveis, como o porteiro ou a equipe de limpeza. Por que essas pessoas raramente têm a oportunidade de participar?

Essa reflexão revela um descompasso entre o discurso de diversidade e a realidade da inclusão, destacando um limite: a exclusão silenciosa daqueles que, apesar de presentes, permanecem à margem das conversas e das decisões. Parece que criamos barreiras invisíveis que restringem quem pode participar dessas discussões e, mais importante, quem tem voz e poder de decisão.

Enquanto as empresas destacam a diversidade em seus ambientes corporativos, muitas pessoas em cargos menos visíveis podem nem ter a oportunidade de compreender o verdadeiro significado desta palavra. A "diversidade de escritório" muitas vezes oculta a falta de representatividade em outras áreas da organização.

O título deste artigo é um questionamento: "Qual é o limite da diversidade?". A intenção é entender até onde limitamos a nossa própria noção acerca deste conceito. A verdadeira diversidade não se limita a contar pessoas, mas sim a garantir que todas as pessoas sejam valorizadas. A diversidade só existe de fato quando é acompanhada de inclusão. Como superamos esse impasse?

Primeiramente, é fundamental entender que o trabalho em diversidade e inclusão não é assistencialismo, mas sim um processo contínuo que demanda engajamento constante e que deve abranger todas as áreas das organizações.

Superar o impasse exige investimentos financeiros, educacionais e em políticas públicas, com o poder público desempenhando um papel importante ao promover políticas que incentivem a inclusão em todos os setores da sociedade. Dentro das organizações, as lideranças têm uma responsabilidade significativa de servir como exemplos e engajar ativamente. Isso inclui criar grupos de discussão com pessoas sub-representadas e compreender as necessidades específicas de cada grupo.

A diversidade de talentos existe. O verdadeiro desafio está na falta de espaço para que esses talentos se destacarem. Diversidade e inclusão não significam baixar a régua, mas sim ressignificar o que consideramos talento, que não deve estar limitado ao tipo de faculdade cursada.

Hoje, não há mais um conflito entre lucro e diversidade; ambos podem e devem coexistir. Diversidade gera valor para as empresas, como comprovado por diversos relatórios, incluindo os da Kantar e da McKinsey. Para isso, é essencial construir ambientes seguros onde as pessoas se sintam à vontade para oferecer o melhor de si. Ambientes inseguros impactam negativamente a autoestima, a produtividade e a qualidade do trabalho.

Continua após a publicidade

Investir em diversidade e inclusão não é apenas uma questão de moralidade, mas uma estratégia para incluir e reter talentos de qualidade, melhorar a performance do negócio, fomentar a inovação, conquistar novos mercados e valorizar a marca empregadora.
Com as crescentes discussões sobre ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança), está nítido que é possível transformar o mundo, proteger o meio ambiente e gerar resultados positivos.

Por fim, acredito que o limite da diversidade é, portanto, a nossa própria capacidade de imaginar e construir o futuro do Brasil mais justo, próspero e inclusivo para todas as pessoas.

*Jully Neves é uma mulher negra, lésbica, autista e nordestina. Especialista em diversidade e inclusão, atua como gestora de projetos e pesquisadora em neurodiversidade. Autora de e-books sobre inclusão no mercado de trabalho, participou do Programa Guerreiros Sem Armas e do Movimento Choice. Formada em administração, direitos humanos e agroecologia, atualmente estuda ESG na FIA.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes