Opinião

Democracia brasileira perde sem a participação da juventude

Quantas vezes você já ouviu dizer que os jovens não se interessam por política? Ou até mesmo que jovens não querem saber de nada?

Os dados da pesquisa Juventudes no Brasil, realizada em 2021, mostram que 60% dos jovens entrevistados não consideram importante conversar sobre política. Mas o principal motivo apontado é a desconfiança nos partidos e nas instituições governamentais. Nas últimas eleições municipais, tivemos apenas 0,61% de prefeitos eleitos no Brasil com menos de 25 anos, e a presença de poucos jovens se repete entre os demais cargos do executivo e legislativo brasileiro.

O cenário diz mais sobre as questões complexas da política no Brasil do que sobre um desinteresse das juventudes.

Historicamente, temos os lugares de poder na política brasileira ocupados por grupos majoritários. O perfil de homens brancos e mais velhos vem há muito dominando o quadro de maioria eleita. Nossa democracia ainda carece de representatividade e de instituições próximas da realidade da população. Mulheres, pessoas negras, indígenas, pessoas LGBTQIA+, com deficiência, não têm representação adequada no poder e essa realidade se repete quando pensamos na juventude.

Entre 2022 e 2024, houve um aumento significativo no número de eleitores de 16 e 17 anos. Após anos de queda no alistamento eleitoral desse grupo, as últimas eleições gerais registraram um crescimento de 51% no número de jovens eleitores. Essa conquista, ainda que pequena, oferece uma oportunidade para transformarmos esse cenário.

O jovem no Brasil precisa ser levado à sério

O aumento de jovens eleitores se deu num contexto de fortes campanhas da sociedade civil e governamentais, incentivando, sensibilizando e orientando sobre o alistamento eleitoral nas redes sociais e fora dela. E todo esse investimento deu resultado.

A mensagem passada foi de que a sociedade confia nesse jovem e deseja vê-lo participando da política. Precisamos reforçar massivamente essa mensagem.

Enquanto sociedade, ainda não superamos a ideia do jovem baderneiro, o "rebelde sem causa", ou que não tem conhecimento suficiente, é incapaz. Sem um questionamento sério sobre os rótulos destinados à juventude não conseguiremos validar e fortalecer o protagonismo e participação de jovens na política.

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Isso porque jovens estão organizados em coletivos, grêmios, grupos diversos, debatendo suas realidades, produzindo conhecimento, atividades e cultura. Esses são espaços intrinsecamente políticos, que, por vezes, buscam até se apartar da política das câmaras de vereadores e do paço municipal pela desconfiança e distância que se estabeleceu com esse universo.

Repensar as instituições e fortalecer a democracia

Se desejamos de fato a participação e o protagonismo da juventude, precisamos repensar a maneira como escolas, universidades, ONGs, partidos, movimentos sociais e demais espaços estão organizados. Os jovens ainda ocupam lugar de tutela e de pouca expressividade. Ainda carregamos uma cultura bastante verticalizada, e a frágil democracia brasileira é reproduzida em cada pequena célula da nossa sociedade. Temos, no micro e no macro da nossa vida, processos pouco participativos, e o quadro piora quando pensamos em grupos marginalizados.

Assim, os jovens não participam da política também porque é naturalizado e visto como totalmente aceitável que parte da população não debata, não esteja representada, não esteja contemplada nas decisões sobre políticas públicas que afetam todas as pessoas. É preciso criar espanto diante desse absurdo. Relembrar que a promessa democrática é de um poder do povo e para o povo.

E diante de tanta desconfiança, a cobrança por transparência e lisura das instituições públicas precisa permanecer como uma esperança.

Encerro com um chamado para a responsabilidade coletiva em acolher e dar espaço para que a juventude possa sonhar e criar mudanças tão necessárias para nossa sociedade. Nossa democracia se fragiliza excluindo parte da população, e perdemos em inovação e criatividade em não dar a oportunidade de que jovens não sejam simplesmente inseridos na política, mas que possam dar à política uma cara jovem.

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* Viviane Junta é co-gestora e mobilizadora na Minha Campinas, organização que incentiva a participação da sociedade civil nas tomadas de decisões da cidade. Especialista em Comunicação Não Violenta. Militante na Associação de Promotoras Legais Populares "Cida da Terra" de Campinas e Região.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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