Opinião

Investimentos de impacto podem reduzir as mudanças climáticas?

As mudanças climáticas exigem colaboração em massa para transformarmos, a tempo, o nosso estilo de vida, a nossa economia, a nossa sociedade e, acima de tudo, a forma como nos relacionamos com a natureza.

Essa missão não pertence a um setor ou a uma forma de ver o mundo. Todos precisamos participar ativamente: governo, sociedade civil e setor privado. Se nos concentrarmos apenas no setor privado podemos ver dois esforços principais: melhoria e transformação dos grandes negócios existentes e fomento de inovações radicais. A onda ESG (acrônimo em inglês para os aspectos ambientais, sociais e de governança na gestão empresarial) vem informando e estimulando as grandes empresas a promoverem essa transformação.

No contexto das mudanças climáticas, a alocação de recursos em projetos sustentáveis pode acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, promovendo tecnologias limpas, energias renováveis e práticas empresariais responsáveis. Com a urgência de combater o aquecimento global, os investidores devem priorizar o direcionamento de uma parte importante do seu capital para iniciativas que contribuam diretamente para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Um aspecto crucial dos investimentos de impacto é o financiamento de inovações tecnológicas voltadas para a sustentabilidade. Startups e empresas dedicadas a soluções climáticas podem se beneficiar de capital que permita escalar suas operações e aumentar a eficiência de suas tecnologias. Essas inovações são essenciais para reduzir as emissões globais e criar uma economia resiliente às mudanças climáticas.

O fomento a inovações radicais pode ter grande contribuição do setor de capital empreendedor (venture capital). Atualmente no Brasil temos alguns poucos fundos de investimento de impacto como os da gestora pioneira Vox Capital, fundada pelo Daniel Izzo, um dos primeiros membros do Impact Hub, por Kelly Michel, a primeira investidora do Impact Hub e pelo Antônio de Morais Neto.

No entanto, precisamos ter muito mais gestores e capital alocado em investimentos de impacto para fazer a transformação que precisamos no pouco tempo que temos. Atualmente, embora os investimentos de impacto estejam crescendo, o volume de capital e o número de gestores especializados ainda são insuficientes para enfrentar o desafio climático em tempo hábil. O tempo é um fator crítico, uma vez que as metas estabelecidas no Acordo de Paris e outras iniciativas globais exigem reduções rápidas nas emissões de gases de efeito estufa e adaptações imediatas para minimizar os danos ambientais. Sem uma alocação mais robusta de recursos e gestores capacitados para direcionar investimentos estratégicos, corremos o risco de não alcançar as transformações necessárias dentro do prazo exigido para evitar as consequências mais severas das mudanças climáticas.

Globalmente temos excelentes referências como a gestora de capital empreendedor Kleiner Perkins, liderada pelo John Doerr, que já comprometeu mais de R$ 1 bilhão de dólares em investimentos em startups e inovações que endereçam a emergência climática. E não se trata de um fundo "alternativo", essa gestora foi uma das primeiras investidoras em empresas como o Google e a Amazon quando estavam começando.

Para o setor privado, fica cada vez mais claro que o futuro dos negócios precisa considerar as mudanças climáticas. Estas, por um lado, estão destruindo mercados tradicionais, mas por outro estão demandando novos negócios que solucionem os problemas climáticos, como os setores de energia renovável, agricultura regenerativa, tecnologia de captura de carbono, construção sustentável, entre outros.

Por convicção ou por oportunismo, os novos negócios precisam considerar o novo cenário em que nos encontramos e os fundos de capital empreendedor podem ter uma contribuição significativa nessa transformação. Ao alocar mais investimentos neste setor podemos acelerar o processo de transição para uma economia de baixo carbono que considera o cenário de emergência climática.

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No Impact Hub, estamos acelerando negócios como a Infinito Mare que criou a Caravela, uma solução baseada na natureza que utiliza algas para remover poluentes das águas, sequestrar CO2 e aumentar a biodiversidade local. Ou negócios como a Agua V, que desenvolve biopiscinas, piscinas naturais e sustentáveis que utilizam plantas para filtrar a água em vez de produtos químicos e podem aplicar isso em larga escala para limpeza da água utilizada para o abastecimento de cidades. Jovens empreendedores estão cada vez mais cientes da urgência e da oportunidade de fazer transformação e criar grandes negócios que podem contribuir com as pessoas e o planeta enquanto geram retornos financeiros significativos.

Por fim, o poder de transformação dos investimentos de impacto está na capacidade de atrair capital privado para questões que antes dependiam exclusivamente de fundos públicos ou filantrópicos. Ao alinhar os interesses financeiros com os objetivos ambientais, é possível acelerar a implementação de soluções climáticas em grande escala. Isso não só melhora a eficiência do combate às mudanças climáticas, mas também demonstra que o retorno financeiro pode andar lado a lado com a sustentabilidade. Em última instância, os investimentos de impacto são uma peça essencial no quebra-cabeça da luta global contra os desastres climáticos.

* Henrique Bussacos é diretor do Impact Hub São Paulo, Florianópolis e Porto Alegre

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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