Por que nós criamos um festival de cinema queer no Centro-Oeste brasileiro?
O audiovisual brasileiro, tradicionalmente dominado pelos grandes centros urbanos e por realizadores muito parecidos socialmente entre si, frequentemente negligencia a diversidade cultural e social que forma o Brasil. Com isso, histórias, visões de mundo e contextos que fogem ao eixo Rio-São Paulo acabam sub-representados, o que impacta diretamente na percepção e na valorização de nossa identidade como país plural. Em meio a esse panorama, iniciativas como o MT Queer Premia, que fazemos aqui em Cuiabá, em Mato Grosso, têm emergido como uma ferramenta fundamental para alterar esse cenário.
A concentração da produção audiovisual brasileira em grandes centros reflete-se não só nas temáticas abordadas, mas também nos modelos de criação e nas oportunidades. Como consequência, a produção independente - especialmente a feita fora dos circuitos tradicionais - enfrenta dificuldades em ganhar visibilidade, e, com isso, as narrativas que representam as realidades locais, as identidades regionais e a diversidade cultural brasileira são invisibilizadas. Esse padrão impacta a construção da cultura nacional, deixando de lado a multiplicidade de experiências e perspectivas que enriquecem nossa identidade. Assim, o Brasil tem sido privado de uma tapeçaria cultural completa, que abrigue a totalidade de suas vozes e nuances.
O MT Queer Premia, feito por nós aqui do coletivo MT Queer, surge nesse contexto como uma resposta potente para equilibrar o jogo e democratizar o acesso a essas vozes. Em uma região, o Centro-Oeste, muitas vezes subestimada em termos de criação cultural e inovação, o festival apresenta um contraponto ao eixo Rio-São Paulo, trazendo à tona a força criativa do interior e das produções independentes. Com uma programação que explora o valor da representatividade e a potência das narrativas LGBTQIA+, o festival revela ao público as riquezas e especificidades culturais de uma região que, apesar de essencial para a formação do Brasil, raramente encontra espaço no mercado.
Os impactos dessa visibilidade vão além do reconhecimento artístico: ao legitimar e apoiar essas vozes, sonhamos que as novas gerações de criadores independentes sintam-se representadas e incentivadas a produzir. O festival abre caminho para um audiovisual brasileiro que, ao contar histórias de lugares e personagens fora dos padrões dominantes, permite que a cultura nacional se expanda, se diversifique e se valorize.
Além de impulsionar a produção cultural e profissionalizar o mercado audiovisual no Centro-Oeste, o evento atua como catalisador para debates urgentes sobre inclusão e representatividade. Ao colocar o tema em pauta, o evento destaca a importância de reconhecer e dar espaço a narrativas que não só ampliam a pluralidade de vozes, mas que também contribuem para a compreensão de uma sociedade mais diversa e complexa. Essa abordagem promove a democratização do acesso à cultura, e o fortalecimento do mercado de produção independente surge como um passo essencial para viabilizar um ambiente audiovisual em que todas as vozes tenham vez e espaço.
O festival, portanto, representa uma das poucas - mas crescentes - iniciativas que realmente investem em construir um futuro onde o audiovisual brasileiro seja mais inclusivo e representativo da pluralidade cultural que nos define. Ao fortalecer a produção independente e regional, pavimentamos o caminho para um Brasil em que todas as narrativas, independentemente de sua origem ou orientação, possam ser ouvidas e apreciadas, contribuindo assim para uma cultura nacional rica, diversa e verdadeiramente representativa.
Elton Martins é formado em teatro pela Unemat e pós-graduando em cinema e linguagem audiovisual para web. Fundou o MT Queer, destacando-se na cultura do centro-oeste. Casado com Hiago Conrado, luta pela diversidade e igualdade, moldando o audiovisual queer com paixão e inovação.
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