Relatório da UNEP divulgado em Baku aponta que, com as atuais emissões, estamos indo em direção a um aumento médio de temperatura de 3.1 graus Celsius. Isso para o Brasil implica em um aumento de temperatura de 4 a 4.5 graus Celsius, com significativa redução de precipitação no Brasil Central e Amazônia.
Todos sabemos dos impactos econômicos e sociais desta brutal alteração climática global. Mas isso não está importando muito na COP29, já que o tema central é o financiamento e não a redução de emissões. A indústria de petróleo trouxe para Baku um exército de mais de 1.700 lobistas bem treinados para defender os interesses deles. E quem defende os interesses das populações que serão fortemente impactadas nos países vulneráveis?
A reunião do G20, ocorrendo no Rio de Janeiro, também chegou a impasses por causa de questões geopolíticas. A reunião da COP16 sobre biodiversidade em Cali no mês passado sequer teve um documento final, pois houve fortes discordâncias sobre como financiar a preservação da biodiversidade.
A obrigação de repartir benefícios obtidos pelo uso econômico da biodiversidade com os países detentores dos recursos naturais e com os povos indígenas e comunidades locais que detém o conhecimento tradicional sobre a natureza é um dos três pilares da Convenção de Biodiversidade. Mas a questão financeira de como preservar a biodiversidade ficou sem solução na COP16 em Cali.
Estas “confusões” em três reuniões críticas para o futuro de planeta não ocorrem acidentalmente. Temos sérios problemas de governabilidade neste nosso complexo mundo atual. E isso tudo antes da mudança de governo nos Estados Unidos. Países desenvolvidos não aceitam mecanismos de transferência de renda para ajudar os países em desenvolvimento a reduzir suas emissões e realizar a necessária transição energética para construírem economias de baixas emissões de carbono.
A solicitação principal na COP29 é um fundo da ordem de 100 bilhões de dólares por ano. Estes recursos correspondem a uma fração da receita da indústria do petróleo, estimada em mais de US$ 2 trilhões. Os custos da adaptação e mitigação de emissões dos países em desenvolvimento já sobem a mais de US$ 1 trilhão por ano.
Com os eventos climáticos extremos aumentando rapidamente, a conta dos impactos vai subir significativamente. Os gastos com as atuais guerras também são muito impactantes, bem como o nível insustentável de consumo dos países desenvolvidos.
Na área climática, as emissões de gases de efeito estufa continuam a aumentar apesar das 29 COPs. Vemos as sociedades assustadas com o aumento dos eventos climáticos extremos, que já causam fortes estragos no mundo todo. O sistema econômico só consegue enxergar os lucros maiores possíveis no curtíssimo prazo, não importa as consequências sociais ou econômicas no futuro.
Esta indústria pode estar inviabilizando a vida de bilhões de pessoas vulneráveis ao longo deste século. Mas isso não importa. Precisamos de uma governança global. O presidente Lula está batendo forte na tecla de reforma da ONU e estruturação de uma nova ordem global. Mas, com Trump, Milei e outros governos de extrema direita, esta bandeira fica cada vez mais difícil.
Temos que mudar radicalmente o sistema de governança global. Sem isso, COPs de biodiversidade, COPs climáticas e reuniões de G20s não darão conta das necessidades urgentes das populações afetadas. Não podemos esperar um consenso entre 196 países com os complexos problemas geopolíticos e com a radicalização que estamos vendo em todo o mundo.
É fundamental evitarmos um colapso do sistema climático global. Este colapso pode estar mais perto do que a Ciência projeta. Alguns tipping points como o colapso da Amazônia e da circulação termoalina global podem estar próximos. Bilhões de pessoas poderão ter suas vidas comprometidas, e não temos muito tempo para mudar o caminho que nossa sociedade está traçando. Mão à obra.
*Paulo Artaxo, Centro de Estudos Amazônia Sustentável, Universidade de São Paulo (USP)
Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o original.