5 maneiras de tornar a sua festa inclusiva para pessoas autistas
As festas de fim de ano como o Natal, Réveillon e as confraternizações de empresas são momentos que, para muitos, simbolizam a celebração. Contudo, para as pessoas autistas, essas ocasiões podem ser desafiadoras.
Mas, por que isso acontece? E o mais importante: como promover um ambiente mais inclusivo e acolhedor, do qual todos possam, realmente, sentir-se parte?
Desafios invisíveis
A sobrecarga sensorial é um dos principais desafios enfrentados por pessoas autistas em eventos festivos. Esse termo se refere ao impacto que um ambiente com muitos estímulos simultâneos pode causar — como música alta tocando constantemente ou luzes piscando de maneira muito rápida.
Isto pode causar desde desconforto até reações mais extremas, como crises sensoriais ou o chamado "shutdown", um estado de desconexão no qual a pessoa precisa de tempo e um ambiente tranquilo para se recompor. Esse processo ocorre porque o cérebro tenta se proteger do excesso de informações.
Além disso, as festas de fim de ano costumam quebrar a rotina, algo que pode trazer ansiedade para autistas. Especialmente quando somado a regras sociais implícitas, como o "amigo secreto" ou as trocas de presentes. Ainda há o impacto emocional pós-evento, conhecido como ressaca social: um estado de esgotamento que surge após longos períodos de interação ou exposição a estímulos sensoriais intensos.
Diante disso, surge a pergunta: quais papeis as organizações, amizades e familiares podem exercer para criar festas mais inclusivas? É possível celebrar respeitando as especificidades de quem está situado no espectro autista? A resposta é sim, e pequenas mudanças podem fazer grandes diferenças.
Como promover inclusão nas festas?
Pequenos ajustes podem fazer uma grande diferença para tornar qualquer celebração mais acolhedora para todas as pessoas envolvidas. Considere as seguintes estratégias:
- Converse sobre preferências pessoais. Pergunte diretamente às pessoas autistas como elas se sentem melhor em eventos sociais. Escutá-las, mesmo que nem todas as demandas possam ser atendidas, já é um gesto importante.
- Certifique-se de a pessoa possa escolher. A participação em brincadeiras, interações e até mesmo na presença física no evento deve ser opcional. Permita que cada um contribua no seu ritmo e na medida do seu conforto.
- Ofereça previsibilidade. Explique com antecedência todas as regras e dinâmicas — desde as trocas de presente até o tipo de interação esperado. Convites nítidos enviados com antecedência ajudam a reduzir a ansiedade.
- Crie espaços calmos. Disponibilize um lugar mais silencioso e afastado do tumulto, onde qualquer pessoa (não apenas autistas) possa recarregar as energias.
- Seja flexível. Em celebrações corporativas, considere o impacto da chamada "ressaca social" e ofereça flexibilidade de horários ou até mesmo folgas no dia seguinte.
Por que isso tudo é tão importante?
As festas de fim de ano são, essencialmente, símbolos de união, celebração e momentos de conexão. Ignorar as necessidades de pessoas autistas nesses eventos é perpetuar as exclusões que elas enfrentam cotidianamente. É como dizer, ainda que indiretamente, que esses momentos não foram planejados para elas. Tornar as festas mais acessíveis, independentemente da ocasião, beneficia todo mundo.
Por isso, antes de planejar uma ceia de Natal ou uma festa de Ano Novo, por exemplo, pergunte-se: este encontro acolhe realmente os diferentes convidados que eu quero reunir? Não basta apenas o convite, é preciso garantir que essa pessoa realmente se sinta parte de tudo que vai acontecer.
No fim das contas, as festas devem unir e acolher, nunca excluir. Afinal, na mesa da empatia há lugar para toda e cada pessoa.
*Jully Neves é uma mulher negra, lésbica, autista e nordestina. Especialista em diversidade e inclusão, atua como gestora de projetos e pesquisadora em neurodiversidade. Autora de e-books sobre inclusão no mercado de trabalho, participou do Programa Guerreiros Sem Armas e do Movimento Choice. Formada em administração, direitos humanos e agroecologia, atualmente estuda ESG na FIA.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.