Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Rotular meninas e meninos de forma diferente traz vários impactos negativos
Esta é a versão online da newsletter Pitaco da Maritaca enviada na última sexta (21). Quer receber as dicas completas da Maritoca, com o texto principal e mais informações, no seu email nas próximas semanas? Cadastre-se aqui!
***
Como quase todas as crianças, eu queria pintar as minhas unhas e usar maquiagem. Minha mãe era categórica em não permitir. Dizia que criança não era mulher e nem homem. Criança é criança e, portanto, não deve ficar sendo marcada pelo gênero. Eu, na minha santa ingenuidade, não entendia a sua justificativa, e se eu questionasse muito sua decisão, ela dizia: "Vai brincar!". E lá ia eu com minha bola de capotão e meu kichute jogar futebol, um tanto frustrada. Hoje, olhando essa situação, acho um pouco radical a atitude da minha mãe, mas consigo entender aonde ela queria chegar com a sua convicção.
Meu irmão mais novo, por sua vez, via suas irmãs brincando de boneca e pediu uma para minha mãe. Ela foi à loja de brinquedos com ele e, quando estavam escolhendo a boneca, surgiu do nada uma voz, julgando: "Nossa, menino brincando de boneca?". Minha mãe estava prestes a se inflamar quando, rapidamente, meu irmão respondeu: "O que é que tem? Um dia eu vou ser pai". Minha mãe sorriu calada, toda orgulhosa.
Ter esse pensamento nos anos 1980 era bem diferenciado. Quatro décadas depois, meu filho, ano passado, teve a professora dos sonhos, daquelas que marcam a nossa vida, não por ser trans não binária, mas pela sua competência, inteligência, acolhimento e sensibilidade. Era comum as crianças da sala corrigirem com afinco pais e mães que, por costume, trocavam o artigo feminino pelo masculino ao se referir a ela (preferência dela usarem o "a"). Quanto aprendizado essa experiência nos trouxe.
Também tenho observado através dos meus amigues uma liberdade em relação a ser o que se sente, e a orientação sexual não tem nada ver com gênero. Quase consigo esperançar um mundo mais evoluído nessas questões.
Em contrapartida, seguimos vendo, com frequência, meninas de rosa e meninos de azul; meninos que não deixam as meninas jogar futebol, que excluem um menino mais sensível da roda; meninas que só ganham bonecas, pôneis, unicórnios, enquanto os meninos ganham robôs, blocos de montar, pistas de carros, jogos que estimulam a inteligência; meninas sendo chamadas de "princesas" e meninos, de "campeões". E de saída, já na vida adulta, ainda vemos as mulheres ganharem salários mais baixos que os dos homens - e desempenhando a mesma função.
Penso que minha mãe tinha razão: devemos olhar para as crianças como tais, e suas escolhas de brinquedo, as cores que gostam, os livros que se interessam não têm absolutamente a ver com o gênero delas.
Sobre a perda de interesse das meninas em Exatas
Sobre as meninas não se acharem "brilhantes"
Sobre as meninas poderem sonhar em ser o que quiserem
Escute os episódios do Programa Maritaca relacionados ao tema:
Pitacos da Maritoca
PITACO DE LIVRO
Meninas podem construir foguetes, escalar montanhas e rodar o mundo de moto. Meninos podem brincar de bonecas, mostrar-se sensíveis e fazer aulas de dança. A dupla de livros "Coisa de Menina" e "Coisa da Menino", de Pri Ferrari, busca questionar algumas crenças que aparecem, justamente, na infância. Estereótipos que nada mais fazem do que limitar e tentar moldas as crianças, fazendo-as acreditar que devem caber em caixinhas pré-moldadas. Quando o assunto é o que os pequenos - e os grandes também - podem ser, não deveria haver regras. As duas obras são da Companhia das Letrinhas.
Veja um pouco sobre "Coisa de Menina"
Veja um pouco sobre "Coisa de Menino"
PITACO DE FILME
"A Fera do Mar" é uma aventura que quebra diversos estereótipos. Na animação, a corajosa garota Maisie embarca escondida em um navio caçador de lendárias criaturas marítimas, e, durante sua emocionante jornada, ela descobre que nem todos os caçadores são heróis e que nem todos os monstros são ferozes. Além disso, o filme aborda questões de diversidade, traz uma ampla variedade de personagens e revela ensinamentos valiosos sobre amizade, coragem e aceitação. O longa foi lançado pela Netflix em 2022.
PITACO DE MÚSICA
Existem algumas boas músicas sobre esse assunto que podem ajudar nessa conversa com as crianças. Aqui vão algumas dicas:
Ouça a música "Menina, Menino", de Adriana Partimpim
Ouça a música "Tem Pouca Diferença", de Jackson Do Pandeiro
Ouça a música "Brincadeira de Menina", de MC Soffia
Expediente
Criação: Mariana Piza
Edição: Camila Rossi
Produção: WIP Ventures
Ilustrações Maritaca: Estúdio Anêmona
Quer falar com a gente? Escreva para pitacodamaritaca@gmail.com
***
Só na newsletter
Receba dicas culturais semanais exclusivas assinando nossa newsletter
O UOL pode receber uma parcela das vendas pelos links recomendados neste conteúdo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.