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A Copa traz de novo à tona os desafios do futebol feminino no Brasil
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Futebola: pensei em escrever sobre a atual Copa do Mundo de futebol e, na mesma hora, o nome do esporte veio no feminino. Gostei. Vou deixar assim aqui porque talvez fosse feminino o nome em português se não tivéssemos adaptado a nomenclatura vinda do inglês. Talvez se a futebola, do jeito que está, tivesse existido na minha infância, eu teria sido jogadora profissional.
Recentemente, fui com meu filho ao Museu do Futebol, no Pacaembu, e descobri que, na época em que eu andava de kichute e tinha uma bola de capotão a tiracolo, podia ser considerada uma menor contraventora. Até 1983 o futebol feminino era proibido, graças a um decreto promulgado por Getúlio Vargas quase 40 anos antes, quando a sociedade pressionou ferrenhamente o então presidente alegando que: "A mulher não pode praticar esse esporte violento sem afetar o equilíbrio psicológico das funções orgânicas, devido à natureza que a dispôs ser mãe". (Fragmento de uma carta enviada à Getúlio por um cidadão carioca chamado José Fuzeira.) Afetar o equilíbrio psicológico??? O que é um jogo de futebol comparado à prática materna? Se somos capazes de manter a sanidade mental sendo mães, o que é um jogo de futebol comparado a isso? Minha mãe ficava preocupada com a sanidade mental do meu irmão assistindo a um jogo de futebol. Aquele menino tão pacífico e gente boa dizia coisas durante o jogo que seriam pesadas até para um serial killer.
Mas voltando ao futebola: quando jogava sendo a única menina entre os meninos da escola, eu não entendia bem por que isso acontecia. Ainda hoje, as meninas não são muito convidadas para o jogo na hora do recreio, e na escola de futebol do meu filho, por exemplo, não tem uma menina sequer numa turma de 40 meninos. Seria um reflexo histórico daquela proibição? Não deveríamos estimular mais esse esporte entre as meninas?
Quanto à Copa, o fato é que temos um gap de no mínimo 40 anos na prática do futebol feminino, e acho que nosso time está num bom caminho. As meninas jogam bem, têm bom jogo de equipe e o equilíbrio mental vai muito bem, obrigada. A taça é um mero detalhe diante de tantos obstáculos superados para estarem no campo de uma Copa do Mundo.
Escute os episódios do Programa Maritaca relacionados ao tema:
Pitacos da Maritoca
PITACO DE LIVRO
O conto "O dono da bola", presente em "Marcelo, Marmelo, Martelo", um dos livros mais célebres de Ruth Rocha, é um ótimo texto para, através do tema futebol, falar sobre outros assuntos fundamentais para a educação de um ser humano, dentre eles a generosidade. Carlos Alberto vive num bairro com um monte de crianças que adoram jogar futebol. Ele é um menino cheio de brinquedos e tem uma bola de couro que é um sucesso entre os outros meninos da turma. Se durante o jogo, no entanto, alguma coisa não sai como Carlos Alberto quer, ele simplesmente vai embora e leva a bola junto com ele, acabando com o jogo da galera. "O dono da bola" vale ler, ver e ouvir.
PITACO DE FILME
O filme "Pelé: O Nascimento de uma Lenda", lançado em 2016, conta a história de Pelé desde a infância até o início da sua fama. A narrativa é envolvente para todas as idades e mostra algumas curiosidades, como o fato do futebol ter sido um esporte elitizado e de brancos, os preconceitos que Pelé sofreu sobretudo no início de sua carreira e a persistência do craque para se tornar o rei que foi. O longa, uma produção Brasil/EUA, tem direção dos irmãos norte-americanos Jeff e Michael Zimbalist.
PITACO DE MÚSICA
O pagode "Jogadeira", de Cacau Fernandes, atacante do São Paulo F.C., e da ex-atleta Gabriela Kivitz, virou um hit entre as jogadoras dentro do ônibus a caminho dos jogos. A música é boa e faz sucesso entre as crianças. Experimente ouvir!
Expediente
Criação: Mariana Piza
Edição: Camila Rossi
Produção: WIP Ventures
Ilustrações Maritaca: Estúdio Anêmona
Quer falar com a gente? Escreva para pitacodamaritaca@gmail.com
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