Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Rotas seguras trazem novas vivências na cidade e ensinam crianças
Um planejamento urbano que respeita todos os públicos leva a uma cidade naturalmente mais inclusiva, onde as crianças podem explorar o território em segurança, criar histórias e se deixar levar pela imaginação. Ruas e calçadas seguras beneficiam também os seus pais, avós e cuidadores, além de outros idosos e aquele vizinho com mobilidade reduzida. Enfim, todos os que circulam e se conectam no espaço público.
Da linguística à psicologia, especialistas discutem o papel do ambiente no desenvolvimento humano, seu potencial pedagógico, lúdico e exploratório na infância. E mesmo sendo tão únicas as vivências e a percepção de cada indivíduo, é ampla a possibilidade de intervir nos espaços e explorar seu potencial acolhedor, interativo e de estímulo à criatividade.
Mas se o ambiente é um terceiro educador, as ruas das cidades estão claramente trabalhando em uma direção oposta, se contrapondo à experiência livre das crianças e, no extremo, impondo um perigo iminente. Mais do que um limitante da vivência infantil, nossas ruas hoje são fatais para elas.
Em workshop realizado no início do mês para cidades da Rede Urban95, o gerente de projetos da NACTO no Brasil, Eduardo Pompeo Martins, abordou a necessidade de coexistir experiências nas ruas das cidades, abrindo novas condições para as crianças, sem desconsiderar os velhos atores urbanos.
Com ideias e propostas para o desenvolvimento de ruas mais seguras, o programa Designing Streets for Kids propõe que a organização urbana priorize pedestres, ciclistas e usuários de transporte público. Sob a lente da primeira infância podemos pensar uma mobilidade melhor, um sistema viário mais seguro e espaços de circulação que sejam divertidos, agradáveis e fortaleçam os laços entre famílias e comunidades.
Um bom exemplo é a medida de acessibilidade universal, que propõe a largura mínima de 1,80 m para todas as calçadas. Pensada para a circulação de cadeiras de roda, são também mais amigáveis para pedestres, cuidadores com carrinhos de bebê e idosos com mobilidade reduzida. Segurança e conforto como um primeiro convite para aproveitar o espaço da rua.
Dando um passo além, as cidades que investem em espaços públicos mais vivos e interativos ousam com propostas de transformação radical das calçadas, que se transformam em caminhos lúdicos e divertidos. O trajeto entre casa e escola pode ganhar áreas verdes, mobiliários urbanos e intervenções artísticas, criando espaços de brincadeira e descanso.
Para ser incorporada no cotidiano, a infraestrutura para pedestres deve formar uma rede que integre a cidade, conectando áreas e serviços já em funcionamento. Como uma espinha dorsal que conecta comunidades e promove o desenvolvimento econômico em cidades de grande e pequeno porte, o transporte público faz parte de uma gestão territorial que tem como foco as pessoas.
Planejar cidades seguras envolve pensar sobre os usos destes espaços, a praticidade e o conforto da população. Ou seja, para ser eficaz deve-se considerar a realidade das pessoas.
Deve-se evitar, por exemplo, que as travessias a pé tenham distâncias maiores do que 200 metros entre si, sendo o ideal 80 metros. "Se o pedestre demora mais de 3 minutos para achar um ponto de travessia, ele tende a atravessar de forma insegura", reforça Eduardo Martins.
Intervenções nas políticas e nos hábitos de trânsito são tão importantes quanto as possíveis alterações no espaço viário, já que serão as pessoas que terão de conviver no espaço das cidades. Se quisermos estabelecer requisitos mínimos para uma circulação segura nas ruas, calçadas e vias, planejadores e sociedade devem estar lado a lado.
Carol Guimarães estará distante nos próximos meses vivenciando, agora na prática, a primeira infância na cidade durante sua licença-maternidade
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