Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Agosto, o primeiro mês da primeira infância
Aprendemos com a sabedoria africana que é preciso uma aldeia para criar uma criança. O provérbio nos lembra de que o apoio ao desenvolvimento pleno e a oferta de oportunidades para elas são responsabilidades compartilhadas por toda a sociedade, que também deveria nos fazer pensar sobre as condições sob as quais estamos deixando o planeta para as próximas gerações. Reforçamos a importância de uma liderança política comprometida para melhorar efetivamente a vida dos bebês e crianças pequenas nas cidades, mas, e a sociedade frente a este desafio?
Para endereçar a pergunta, o Brasil celebra pela primeira vez em agosto o Mês da Primeira Infância. Em um esforço coletivo para reforçar a importância de atender esse público com políticas prioritárias e muita atenção, o Ministério da Cidadania apoia a campanha e a Câmara dos Deputados já estuda transformar a data em lei específica, enquanto prefeituras de todo o Brasil dão início às atividades comemorativas.
O Agosto Dourado foi precursor da agenda com o incentivo à amamentação e o Dia da Gestante, comemorado em 15 de agosto. Mas falar da primeira infância vai além de oferecer uma cobertura de pré-natal e apoio ao aleitamento materno. Pensar na infância é atender pais e cuidadores com serviços públicos de qualidade, é preservar os espaços públicos limpos e iluminados, é pensar em intervenções urbanas lúdicas como parte de todas as ruas.
Com o objetivo de dar pleno atendimento aos direitos dos bebês e crianças pequenas, a escolha de um mês específico reforça a mobilização da sociedade civil, a criação de políticas públicas e a visibilidade do tema. Os exemplos históricos mostram como é efetiva a instituição de datas temáticas, como é o caso do Outubro Rosa, com foco na prevenção ao câncer de mama.
Mas por que primeira infância? Porque esse período é único na vida do ser humano, e já aprendemos que as oportunidades ofertadas nos primeiros seis anos nos impactam por toda a vida, passando por habilidades sociais e de aprendizado. O cérebro dos bebês e das crianças pequenas é como um molde fresco, ainda moldável e pronto para receber estímulos e experiências das mais diversas. E o que for marcado nestas formas vivas vai desenhar as características da sociedade do futuro. Os bebês de hoje serão os cidadãos das próximas décadas.
A primeira infância é um tema transversal para as cidades, interdisciplinar e que se beneficia da mobilização de toda a sociedade, afinal, o desenvolvimento infantil demanda das áreas de saúde, segurança, assistência social, mobilidade e muitos outros. Mas é também uma agenda com uma boa taxa de ressarcimento social e econômico, com números claros. Pesquisas indicam que a cada um dólar investido em políticas efetivas para a primeira infância, há um retorno de até 7 dólares para os cofres públicos.
Apesar da vontade e liderança política ser fundamental, não bastam leis para tornar as cidades mais seguras e agradáveis para os bebês e crianças pequenas. É preciso que a comunidade acredite na agenda e se envolva em uma proposta de mudança de comportamento, onde a primeira infância seja prioridade. Uma cultura urbana que entenda a importância de proporcionar espaços, experiências e oportunidades para o desenvolvimento pleno dos pequenos traz vantagens de todo tipo e cidades melhores para todos nós.
Carol Guimarães estará distante nos próximos meses vivenciando, agora na prática, a primeira infância na cidade durante sua licença-maternidade.
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