Covid-19: Ensino a distância precisa almejar equidade
Temos acompanhado o admirável esforço com que as redes de ensino estão replanejando suas atividades diante do período de isolamento social. Escolas em todo o Brasil suspenderam suas aulas que serão repostas com base em um novo calendário, adaptado à inusitada circunstância.
No âmbito das instituições privadas, várias escolas optaram por manter o calendário letivo que vinham seguindo, por meio do uso de ferramentas de ensino a distância - alternativa autorizada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em situações emergenciais. As soluções e os formatos variam de acordo com o perfil da escola e o nível de ensino considerado. Aulas remotas em tempo real, aulas previamente gravadas em vídeo, encontros virtuais com tutores e roteiros diários de atividades são exemplos de estratégias que estão sendo exploradas, muitas vezes simultaneamente.
O desafio de não deixar ninguém para trás ganha outra dimensão diante das óbvias limitações inerentes a tais recursos quanto à interação social e a construção de vínculos afetivos. Disponibilizar uma série de aulas em vídeo na internet e esperar que todos aprendam é o caminho certo para a exclusão de muitos. O ensino a distância não pode ser visto como uma resposta definitiva, mas como um complemento ao conjunto de experiências presenciais desfrutadas pelo aluno no cotidiano escolar. No entanto, para esse período inédito que vivemos, nos cabe buscar o melhor que essas tecnologias podem oferecer.
Partindo do princípio de que existem diferentes formas de aprender, para que todos tenham acesso ao conhecimento precisamos considerar diferentes formas de ensinar. Traduzindo em miúdos, devemos incorporar à prática docente a diversificação de formatos dos materiais didáticos, das estratégias pedagógicas e das interrelações entre o conteúdo curricular e a vida real do aluno. Nesse sentido, a busca pela eliminação de barreiras assume o papel de premissa para o planejamento de tal diversificação. Isso vale também para o universo da educação a distância.
Uma das equipes pedagógicas com que conversei nesses últimos dias tem criado soluções que merecem ser compartilhadas. Comprometidas com a missão de incluir todos, os professores estão atentos às demandas particulares de cada estudante. Planejam ações pensando no coletivo e no individual. A elaboração de roteiros de atividades, por exemplo, contempla a flexibilização de algumas delas conforme o perfil de cada aluno. Ao mesmo tempo, os profissionais acompanham e avaliam diariamente suas turmas. Faz parte desse processo manter diálogos frequentes com os estudantes e seus familiares.
A interação entre os colegas para a realização de tarefas também é estimulada constantemente. Jonas, aluno do Fundamental ll, tem transtorno do espectro do autismo e, antes da quarentena, vinha recebendo apoio complementar da equipe que, agora, segue determinada a entender seu percurso e pensar em práticas que favoreçam sua aprendizagem. De acordo com a coordenadora do Núcleo de Práticas Inclusivas da escola de Jonas, "Estamos experimentando e descobrindo. Esse novo momento, de certa forma, trouxe a oportunidade para a gente aprender a usar essas novas tecnologias."
Caso as escolas públicas sejam orientadas a adotar também o ensino a distância nos próximos meses, os gestores responsáveis pela implementação de tal medida precisam encarar desafios de outra ordem, como a garantia de acesso a equipamentos, à internet e aos próprios materiais didáticos. Conteúdos audiovisuais, por exemplo, devem oferecer legendas, janela de Libras e audiodescrição. Por outro lado, é fundamental que os professores do Atendimento Educacional Especializado participem do planejamento desse novo momento. Enfim, precisamos pensar em todos os alunos desde o início.
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