O retorno da escola radiofônica
Há diversas parábolas, fábulas e metáforas que nos servem para perceber a relatividade dos desafios. O voo do besouro, a história do irmão otimista, o limão que vira limonada, etc. Todas indicam que devemos saber identificar as oportunidades escamoteadas pelo nevoeiro das adversidades e tentar transformá-las em ações construtivas. No entanto, nada melhor do que constatar um fato real que mostra tudo o que essas figurações procuram ilustrar.
Aconteceu em plena pandemia, no interior do Rio Grande do Norte. Mais precisamente, em Serra Negra do Norte, município com pouco mais de 8 mil habitantes, a 320 km da capital Natal. Ali, como conta uma ótima matéria publicada em junho pela revista Piauí, do dia para a noite faltou escola para as crianças e adolescentes da pequena cidade. Recursos online não atendiam a uma grande parte dos alunos, moradores da zona rural, onde o sinal de internet é fraco e muitas famílias não têm celular.
A solução veio de onde menos se esperava: a rádio local, chamada Rádio Princesa da Serra. Lembrando que mesmo as casas mais pobres tinham ao menos um radinho de pilha, o secretário de educação do município convenceu os donos da emissora a ceder um horário diário para a educação à distância, resultando na criação do programa "Educação na Quarentena".
A experiência foi um sucesso, a ponto até de trazer de volta aos estudos uma aluna que há tempos tinha desistido, como conta a reportagem da jornalista Mariana Ceci. A adesão das famílias foi além do esperado, o que encorajou o secretário, os professores e o pessoal da emissora a seguir em frente. Fui ler mais sobre essa história e descobri que o Rio Grande do Norte foi o berço das primeiras escolas radiofônicas do Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial, quando Natal foi escolhida para ser base militar dos Estados Unidos. Ou seja, é interessante pensar que o ensino à distância já existia naquela época.
Hoje, mais gente no Brasil presta atenção à pequena cidade potiguar. Afinal, o município vem atendendo com sucesso a estudantes da pré-escola ao último ano do ensino fundamental. A experiência já foi expandida para Caicó, município sede de região, e recentemente recebeu a colaboração de profissionais do Instituto Paulo Freire. Cabe lembrar que a rádio é uma mídia com várias limitações, como a falta de acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva. Mas isso não muda em nada o brilho da iniciativa.
A grande lição que nos dão os educadores de Serra Negra do Norte é a de que o intransponível é relativo. Os limites rompem-se por meio da vontade de confrontá-los e transformar a realidade.
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