Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Tecnologia e formação docente precisam caminhar juntos
Mattics é um daqueles belos projetos que reforçam nossa crença de que a educação brasileira pode alçar voos mais altos por meio do uso estratégico da tecnologia, acompanhado de uma melhor formação de nossos docentes no tema. Criado em 2015 pelo professor Greiton Toledo de Azevedo, o Mattics deu aos alunos do 6º ano da Escola Municipal Irmã Catarina Jardim Miranda, em Senador Canedo (GO), a oportunidade de aprender matemática e desenvolver competências para o século XXI, por meio da construção de jogos digitais.
Em 2017, o projeto foi ampliado e passou a acontecer também no Ensino Médio do Instituto Federal Goiano, em Ipameri (GO). Segundo Greiton, "com a implementação do Mattics, os alunos começaram a ver sentido naquilo que estudavam diante da aplicação científico-tecnológica em prol da sociedade, deixando de lado o medo dessa área de conhecimento". Uma das soluções de grande impacto social dessa iniciativa é a criação de dispositivos de robótica de baixo custo destinados ao tratamento de sintomas da doença de Parkinson, o que tem beneficiado a vida de dezenas de idosos que moram na região. Nos últimos anos, mais de 3 mil alunos já aprenderam matemática por meio dessa imersão mais lúdica no território da tecnologia. Explorar conteúdos como ângulos, sistema cartesiano e perímetro e usá-los em jogos é muito mais atraente do que aplicá-los em atividades mecânicas, no esquema pergunta e resposta.
Cabe sempre lembrar que o uso da tecnologia não pode ser encarado como a solução final, mas como um meio que pode jogar a favor da construção de significados, contextos e invenções. Sem o professor, certo recursos tornam-se insuficientes e, em certos casos, inócuos. Essa questão é um dos destaques do relatório Tecnologias para uma educação com equidade, resultante de uma parceria estabelecida entre Todos Pela Educação (TPE), Dados para um Debate Democrático na Educação (D³e) e Transformative Learning Technology Laboratory (TLTL), da Universidade de Columbia. De acordo com a publicação, os professores precisam de formação para atuar em três papéis: designer (desenha experiências de aprendizagem memoráveis, significativas e duradouras, com o apoio de tecnologias), curador crítico (busca, seleciona e usa criticamente recursos e tecnologias com foco na aprendizagem e no trabalho docente) e pesquisador (investiga, reflete e registra suas próprias práticas educacionais que utilizem tecnologias).
"Nem todos os professores recebem formação para trabalhar com tecnologias. A formação acaba sendo uma iniciativa autônoma e, muitas vezes ou quase sempre, precisamos tirar dinheiro do próprio bolso para bancar nossas ideias. Eu mesmo precisei renunciar a muitas coisas para construir o projeto Mattics, contando somente com o apoio da comunidade e de voluntários", fala Greiton. O fato de parecer lugar comum não pode abafar nossos esforços para que recursos públicos sejam canalizados para essa lacuna estrutural dos espaços em que os futuros profissionais do nosso país estão sendo formados.
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