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Rodrigo Hübner Mendes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

10 músicas que chamaram atenção para questões humanitárias

Cena do clipe de "Stefania", da banda ucraniana Kalush Orchestra - Reprodução
Cena do clipe de 'Stefania', da banda ucraniana Kalush Orchestra Imagem: Reprodução

Rodrigo Hübner Mendes

20/05/2022 06h00

Lembro-me em detalhes do lançamento de "We are the world" — clipe gravado em estúdio na Califórnia, que virou um dos maiores hits de quando eu era adolescente. Escrita por Michael Jackson e Lionel Richie, a faixa contou com a participação de 51 superestrelas da época, como Bruce Springsteen, Tina Turner, Cyndi Lauper e Bob Dylan. O projeto tinha o objetivo de gerar recursos para as vítimas da fome no continente africano, e tornou-se o single mais rapidamente difundido na história da música pop: 7 milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos. O lucro arrecadado com a música — aproximadamente 147 milhões de dólares — foi entregue para a ajuda humanitária.

Na semana passada, "Stefania", da banda ucraniana Kalush Orchestra, é outra música que acabou de entrar para a história ao ganhar o tradicional Festival Eurovision da Canção 2022. Originalmente escrita em homenagem à mãe de Oleh Psiuk, vocalista do grupo, a canção transformou-se em um hino de amor pela pátria que vem enfrentando a destruição decorrente da invasão russa. Numa combinação animada entre rap e folk, Stefania — composta antes do início da guerra — faz uma homenagem às mães e seu sacrifício pelos seus descendentes.

"Meu amor por você não tem fim", diz a letra, embalada por um instrumento típico da Ucrânia, a talenka. O clipe, gravado em locais atingidos pela guerra, mostra mulheres com o uniforme do exército ucraniano resgatando crianças em meio a escombros, fogo e prédios arrasados por explosões.

Muitas outras composições marcaram época, pontuando claramente a posição de artistas (e de seu público) em relação a tragédias humanitárias, guerras e repressões violentas. Organizei uma lista com algumas delas:

  • "The Star Spangled Banner" (Jimi Hendrix): gravada durante o festival de Woodstock, o hino nacional norte-americano virou um símbolo da contracultura no fim dos anos 1960. Hendrix adicionou à música nuances da Guerra do Vietnã, usando sons de metralhadoras, bombas e sirenes.
  • "Give peace a chance" (John Lennon): tornou-se uma canção antiguerra na época do conflito no Vietnã. Recentemente, no início de março, cerca de 150 estações de rádio da Europa transmitiram a música ao mesmo tempo, em solidariedade às vítimas da guerra na Ucrânia, numa iniciativa da União Europeia de Radiodifusão (EBU).
  • "Grândola, Vila Morena" (José Afonso): essa música talvez seja um dos maiores exemplos de como a cultura impacta a sociedade e a política. Foi a partir dessa composição que nasceu e se fortaleceu o movimento que culminaria na Revolução dos Cravos, em Portugal.
  • "Sunday Bloody Sunday" (U2): a canção fala do "Domingo Sangrento", em Derry, na Irlanda do Norte, que aconteceu há 50 anos. Na ocasião, 14 pessoas foram assassinadas pela polícia durante um protesto contra a dominação inglesa. Lançada em 1983, a música aborda o clima de horror provocado pelas tropas britânicas que atiraram contra os manifestantes.
  • "Born in the USA" (Bruce Springsteen): a música dá nome ao álbum que fez grande sucesso no início dos anos 1980 e fala dos problemas que os veteranos da Guerra do Vietnã enfrentavam quando retornavam para casa.
  • "Winds of Change" (Scorpions): a banda alemã lançou a música em 1990 e ela se tornou um ícone da derrubada do muro de Berlim. No entanto, foi escrita meses antes desse acontecimento, inspirada em mudanças sociais e políticas da Europa.
  • "Que país é esse?" (Aborto Elétrico / Legião Urbana): composta em 1978 e gravada só em 1987, foi colocada em evidência em alguns momentos significativos da história do Brasil -- por exemplo, o pedido de impeachment do então presidente Fernando Collor.
  • "The Saints Are Coming" (The Skids / U2 e Green Day): a música foi regravada em 2006 e gerou recursos para a Music Rising, instituição de caridade que The Edge, guitarrista do U2, ajudou a criar para levar instrumentos e programas de música de volta a Nova Orleans, após os estragos causados pelo furacão Katrina.