Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Formação continuada: potente alavanca para a inclusão escolar
Recentemente, uma pesquisa realizada pelo Datafolha, encomendada pela Fundação Lemann, mostrou que 70% dos professores brasileiros concordam que a escolarização de crianças com deficiência junto às demais, em classes inclusivas, beneficia a todos. O levantamento também revelou que 40% dos docentes não têm formação sobre esse tema. Outros estudos feitos nos últimos anos já vinham nos sinalizando que, apesar de os educadores estarem dispostos a receber esses estudantes nas salas de aula em que lecionam, eles se sentem inseguros diante da falta de conhecimento.
"Depois da oportunidade de participar de um curso de formação continuada, trabalhar com alunos com deficiência junto aos demais deixou de ser simplesmente uma questão de educação inclusiva. Passou a ter a ver com convivência e aprendizagem", conta Gisele Rocumback, diretora do CEU Emef Manoel Vieira de Queiroz Filho, na capital paulista.
Até ser professora da rede pública, depois de ter passado pela rede particular, Gisele nunca tinha atendido crianças com deficiência. Na faculdade, também não tinha sido formada para tal e, durante sua infância, nunca convivera com tais pessoas. "Mas quando cheguei na Manoel, me deparei com uma escola com muitos alunos da Educação Especial. Fiz meu melhor por eles, sempre fui a favor da inclusão, mas não sabia lidar com as dificuldades que apareciam e não enxergava possibilidades reais de trabalho", conta.
Quando assumiu o cargo de coordenadora pedagógica, Gisele, a professora de inglês e a professora do atendimento educacional especializado foram convidadas pela secretaria municipal de educação paulistana para participar da formação "Materiais pedagógicos acessíveis", promovida pelo Instituto Rodrigo Mendes. "Pensamos: 'lá vamos nós para mais um curso', mas não foi isso o que aconteceu. O olhar de todas nós mudou, foi um divisor de águas. Recebemos informações e fomos convidadas a pensar de forma prática para solucionar um problema que nós mesmas identificamos na escola".
Durante o curso, Gisele e as colegas desenvolveram o "Jogo da trilha interativo" (https://diversa.org.br/relatos-de-experiencia/jogo-da-trilha-interativo-promove-participacao-autonomia/) com o objetivo de promover a participação e a autonomia de um estudante com deficiência visual. O material acabou se tornando um hit: todos queriam usá-lo, fazendo as adaptações necessárias para trabalhar diversos conteúdos e habilidades. Foi preciso pensar em uma estratégia de rodízio entre os alunos.
"Ao estudar a educação inclusiva, ficou claro que ensinar um estudante cego, por exemplo, requer planejar uma aula pensando nele e nos demais alunos, fazendo com que o conteúdo seja acessível para todos eles, juntos. É mais simples do que a gente pensa. E é inclusivo de verdade", diz a diretora.
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