Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Romeu Sassaki deixa uma sólida herança para a inclusão em nosso país
Em 1995, fui convidado a participar de um congresso internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência, realizado no Rio de Janeiro. Durante um dos painéis, chamou-me a atenção um senhor muito elegante, com olhar sereno e determinado, que falava sobre o paradigma da inclusão — termo que naquela época não fazia parte do vocabulário corrente, nem mesmo de lideranças no campo dos direitos humanos.
Fui descobrir que se tratava de Romeu Kazumi Sassaki, um assistente social que havia trazido para o Brasil uma série de novos conceitos nesse campo, após ter passado um longo período no exterior. Lembro-me de suas explicações sobre a filosofia que a Unesco acabara de assumir como diretriz a ser seguida por programas voltados a pessoas com algum tipo de deficiência ao redor do mundo.
Em resumo, tal filosofia propunha que essas pessoas deveriam conviver com o restante da sociedade, em condições de igualdade, seja qual fosse a dimensão considerada: educação, trabalho, lazer etc.
O processo de transformação da sociedade em um ambiente mais democrático, acessível a qualquer cidadão, passava a ser visto como uma responsabilidade compartilhada por todos. Uma pessoa com impedimentos físicos, por exemplo, deveria deixar de assumir sozinha o ônus de se reabilitar e vencer eventuais barreiras para atuar no mercado de trabalho.
Esse processo deveria resultar de um esforço coletivo e envolver todas as esferas sociais (governo, setor privado e sociedade civil). Iniciativas segregacionistas, como as escolas especiais e as oficinas abrigadas de trabalho, passaram a ser vistas como ultrapassadas e até mesmo prejudiciais para aqueles que almejam promover a igualdade de direitos em uma sociedade plural.
Ao final da palestra, dirigi-me a Romeu com o objetivo de agendar um encontro em que eu pudesse ouvir mais sobre sua argumentação. Duas semanas mais tarde, nos reunimos em São Paulo, na Secretaria Municipal do Bem-Estar Social, órgão em que ele trabalhava.
Nossa conversa foi um divisor de águas na trajetória do Instituto Rodrigo Mendes, que havia nascido como uma escola especial e se redefiniu como uma instituição inclusiva. Inúmeras outras organizações e lideranças passaram pelo mesmo processo de amadurecimento e evolução graças à influência de Romeu. Seus livros, suas palestras e suas pesquisas são fontes preciosas que merecem ser continuadamente consultadas.
Esse grande amigo, conselheiro e parceiro faleceu no último domingo, deixando um vácuo insubstituível em nosso país. Mais do que isso, deixando uma herança sólida para nossa sociedade. Guardarei na memória seu entusiasmo e sua persistência em mudar a visão de mundo daqueles que o rodeavam. Fica aqui minha homenagem a esse admirável ser humano a quem serei sempre grato.
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