Vai muito tarde o pior ministro do MEC na história
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Durou intermináveis 436 dias a passagem de Abraham Weintraub pelo Ministério da Educação. Desprovido de predicados éticos e técnicos para a função, transformou sua gestão em uma coleção de motivos para sua defenestração. Desconhecimento completo da área, incompetência gerencial, perseguição a servidores, omissão em discussões capitais, xenofobia, publicação de informações distorcidas ou simplesmente falsas, ameaças contra um dos poderes da República. Por ironia, acabou tostado por sua fidelidade canina ao chefe. Nem o próprio Bolsonaro conseguiu segurar o bolsonarismo hidrófobo de seu subordinado direto.
Se houvesse o mínimo de decoro no poder executivo, o conjunto da obra weintraubiana resultaria num afastamento por desvio de função. No poder, portou-se como um antiministro da Educação, comprando todas as brigas possíveis com os atores que fazem o setor andar. Inepto para a gestão pública, não conseguiu implementar sequer uma única política. Fugiu constrangedoramente das urgentes discussões sobre o Fundeb, importante fonte de financiamento que vence em 2020. As polêmicas escolas cívico militares são pouco mais que um factóide — 216 até 2023, num universo de 180 mil escolas. Da política nacional de alfabetização ficarão apenas as patéticas fotos do ministro abraçado ao ursinho Tito, mascote da campanha. O Future-se, que ambicionava alterar o modelo de financiamento do ensino público, foi destroçado por especialistas e rejeitado na ampla maioria das universidades públicas. Sem qualquer noção da realidade, passou vergonha ao dizer que uma prova que custa 500 milhões sairia por 500 mil. Celebrizou o termo "balbúrdia" ao se referir às universidades públicas, acusando-as até de produção de drogas. Assistiu impassível ao bloqueio de verbas, corte de bolsas na pós-graduação e ao sucateamento da Capes e do Cnpq. Por ação e omissão, acabou atraindo as maiores manifestações antigoverno até o momento, na greve nacional de 15 de maio de 2019.
O Enem alardeado como "o melhor da história" deu chabu. Como o jogo só acaba quando o juiz apita, falhas grosseiras no processo de impressão alteraram notas de milhares de alunos e colocaram os resultados sob suspeita. Bombardeada por todos os lados, a insistência numa edição de 2020 em plena pandemia foi tolhida pelo Senado. Não fosse pelo solitário e nada surpreendente voto de Flávio Bolsonaro, o massacre teria sido por unanimidade. O comportamento durante a crise do coronavírus, aliás, foi fiel à cartilha negacionista do chefe: conclamou a volta às aulas e foi solenemente ignorado. Na discussão sobre ensino remoto, mais uma vez se omitiu, reduzindo o MEC à tarefa de redator de portarias protocolares, deixando estados e municípios à própria sorte. Confraternizou com apoiadores e desobedeceu regras do uso de máscara em lugares públicos. Tornou-se uma das únicas três pessoas multadas no Distrito Federal pela falta do acessório.
O Twitter foi a grande vitrine de sua inépcia e destempero. Com seus erros de ortografia, gramática e pontuação, fez a festa dos professores de Língua Portuguesa. Arranjou um conflito diplomático com a China com uma postagem xenófoba sobre o coronavírus. Tentou uma vaga no elenco de A Praça é Nossa ao imitar Gene Kelly e ao "lacrar" num pronunciamento com oclinhos da opressão de plástico. Apesar da simpatia de Silvio Santos ao governo de plantão, não há notícia de que tenha sido bem-sucedido.
Incapaz de dialogar com movimentos sociais, de classe, sindicatos, universidades, especialistas, fundações, institutos — em suma, todo mundo —, tentou governar por decreto. Foi invariavelmente vencido. A tentativa de nomear interventores universitários por medida provisória foi o humilhante prego no caixão, com a MP devolvida pelo Senado ao Executivo. No tempo vago — aparentemente abundante —, acumulou brigas. Gritou e chorou na Câmara dos Deputados, xingou internautas, chamou ministros do STF de vagabundos e desejou a prisão da Corte. Não poupou sequer objetos inanimados: ficou conhecida sua obsessão com o painel de Paulo Freire em frente ao MEC ("não é feio de doer?"). Foi derrotado até mesmo pelo mosaico, que segue de pé, apesar das ameaças de demolição por parte do agora ex-ministro.
Fiel ao seu mandato de antiministro, apaga as luzes no último dia tentando eliminar a política de cotas na pós-graduação. Provavelmente fracassará, como em tudo o que fez ao longo de seu mandato. Se na entourage bolsonarista não há grandes esperanças quanto à sucessão de Weintraub — e não há mesmo —, resta a esperança de que será difícil tomar dele o título de pior ministro da Educação de todos os tempos.
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