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Rodrigo Ratier

Mais que reabrir, é preciso pensar nos 800 mil sem acesso a aulas remotas

9.mai.2018 - Rossieli Soares da Silva, Ministro de Estado da Educação. participa de reunião na comissão de educação da camara  - Renato Costa/Estadão Conteúdo
9.mai.2018 - Rossieli Soares da Silva, Ministro de Estado da Educação. participa de reunião na comissão de educação da camara Imagem: Renato Costa/Estadão Conteúdo

06/07/2020 04h00

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Em São Paulo, a rede pública estadual tem cerca de 3,5 milhões de alunos. Dados do final de maio davam conta de que menos da metade havia acessado o aplicativo para o período de aulas online. Em entrevista exclusiva ao UOL, na tarde de sexta (3), o secretário da educação Rossieli Soares da Silva afirmou que as cifras pouco se alteraram. Disse que somando as outras "atividades não presenciais" — kits de material, interações em redes sociais e ações das próprias escolas —, algo como 2,6 milhões de estudantes foram atingidos. As transmissões de teleaulas pela TV digital ficam fora da conta — o Ibope não quantifica a audiência dos chamados multicanais, onde o conteúdo vem sendo divulgado.

Uma conta simples de subtração revela o tamanho do problema: há entre 800 mil e 900 mil crianças e jovens que, muito provavelmente, não tiveram sequer uma aula durante a pandemia. Extrapolando o cenário paulista para o país, não parece descabido pensar que, dos 40 milhões de alunos de escolas públicas, algo em torno de 9 milhões estejam sem estudar nada desde a interrupção das aulas.

A estimativa é conservadora: São Paulo é a unidade mais rica da federação. Conta com uma rede estadual com estrutura e performance acima da média nacional. Entre os 5 milhões de estudantes brasileiros em áreas rurais, o drama, provavelmente, é pior. Mas vamos focalizar a situação paulista: quem são essas 800 mil pessoas? E os outros 2,6 milhões, será que estão aprendendo alguma coisa? E o que dizer sobre os 1,3 milhão de estudantes que se alimentavam na escola, mas hoje não recebem o vale merenda de 55 reais mensais: eles estão passando fome?

Até agora, não há resposta para essas perguntas. Com as atenções voltadas para o retorno presencial, provavelmente seguirão em aberto. Parece fora da ordem pensar em retomada quando há tantas dúvidas sobre o acesso e a qualidade do ensino ofertado aqui e agora. Parte dos questionamentos deriva do ineditismo da situação: uma pandemia imprevista, que exigiu uma migração massiva e pouco estruturada para a educação online. Outra parte, porém, exige providências urgentes para que a frase "a educação em São Paulo não parou" seja mais do que um slogan pouco convincente na boca do governador. Como já escrevi neste espaço, o ensino continuou — precário, improvisado — para alguns. A aprendizagem, não se sabe. E, para ao menos 800 mil pessoas, tudo parou.

Quanto à retomada, Rossieli é realista: risco zero, só com vacina. O que se pretende é que a volta às aulas não gere uma explosão de contágios, de um lado, e consiga minorar as inevitáveis defasagens na aprendizagem, por outro. No front da saúde, sem política consistente de testagem e rastreamento, não há como excluir a hipótese de uma segunda onda. No da educação, sem diagnósticos de aprendizagem e busca ativa para garantir que todos e todas retornem à escola, não há como prover o mínimo em termos de acesso e qualidade. São medidas concretas que precisam estar na pauta de todas as redes - em São Paulo, os chamados "protocolos pedagógicos" são aguardados para as próximas semanas. Segue ecoando a dúvida: o que fazer até setembro, data de um possível retorno? Sem pensar no presente, fica mais ainda mais difícil e incerto preparar cenários para o futuro.