Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sem punição exemplar, uma hora a bomba mata
Longe de ser caso isolado, o bárbaro assassinato do ex-premiê japonês Shinzo Abe durante ato de campanha é mais um exemplo da escalada na violência política ao redor do mundo — que, por sua vez, anda em par à radicalização ideológica turbinada pelas redes sociais. No Brasil, o atentado a faca contra Bolsonaro, na campanha de 2018, foi o ponto agudo da tendência. De um lado e de outro do espectro ideológico, não cabem teorias da conspiração quanto ao ocorrido: deve-se relembrá-lo e condená-lo veementemente para que não se repita. Também não atenuam a gravidade os transtornos mentais do autor do atentado. Para matar, basta uma bala, uma facada.
O contexto evita equívocos, e uma retrospectiva recente previne falsas equivalências. Em julho de 2015, uma bomba furou o portão de metal da garagem do Instituto Lula, arremessando estilhaços no ponto de ônibus do hospital que fica em frente. Em março de 2018, um dos ônibus da Caravana de Lula foi alvejado por tiros no Paraná. Foram dois atentados contra um ex-presidente que terminaram sem responsabilização.
Toda a turnê petista de 2018 pelo Sul do Brasil foi um tenso pesadelo. Presenciei chuvas de pedras, paus e ovos durante ato em Chapecó. Os ataques vinham do que eu supunha ser uma franja radical e exótica na política brasileira: brutamontes ostentando camisetas de Bolsonaro presidente.
A eleição mostrou que não se tratava de exceção. Corta para 2022 e chegamos às explosões, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, em eventos públicos da esquerda. Ambas liberando cargas de excrementos - é assunto para muitas horas de divã a fixação pelas fezes, mas essa turma não faz terapia (que falta faz). A campanha nem começou e já normalizamos cenas típicas de narcoestados: que um candidato tenha de subir ao palanque com colete à prova de balas, discursando para uma plateia em espaço protegido por grades.
Toda vez que um atentado desses passa impune, o próximo recebe uma espécie de autorização tácita. No caso carioca, o suposto autor André Stefano Dimitiu Alves de Brito, 55, foi autuado por crime de explosão pela polícia do Rio. Se condenado, pode pegar até seis anos de prisão. Se as autoridades não dão o exemplo — alguém imagina o atual presidente condenando a violência contra seu principal rival ? —, que a lei seja rigorosa. A tragédia com o ex-premiê japonês nos alerta que, se nada for feito, pode dar coisa pior.
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