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Rodrigo Ratier

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem Lula, debate vira competição pelo título de mais direitista

 Bolsonaro manda Ciro se olhar no espelho  -  O Antagonista
Bolsonaro manda Ciro se olhar no espelho Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

24/09/2022 20h27

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Sobrou, como era de se esperar, para Lula. Com a imagem do púlpito vazio focalizada a cada início de bloco, os outros seis candidatos do debate presidencial aproveitaram a ausência do petista para apupá-lo. "Ladrão" e "presidiário" (Bolsonaro), ausente por "salto alto" (Ciro), "criminoso" e "Barrabás" (Felipe D'Ávila). Num debate frio, Simone Tebet (MDB) foi a menos sonolenta. A postulante do MDB foi a única a enfrentar com alguma contundência o presidente Bolsonaro, a quem chamou de "insensível" e "Pinóquio".

Ciro seguiu com as baterias voltadas para o PT e o "lulopetismo corrupto". Sobre Bolsonaro, o pedetista até lamentou a perda de "uma oportunidade de ouro de mudar o Brasil", mas com o cuidado de afagar o capitão ("sem tirar o valor dele [Bolsonaro]", "sem fazer disso ofensa pessoal", como chegou a dizer). Combatividade apenas em um direito de resposta, com a menção às acusações de corrupção do clã.

Contido, Bolsonaro não aproveitou a oportunidade para conquistar novos eleitores. Pouco apareceu, em parte devido ao formato engessado para dar espaço aos seis participantes. Nas interações com adversários optou pela dobradinha com Padre Kelmon (PTB), que parecia saído diretamente do cercadinho do Alvorada para defendê-lo. "O senhor [Bolsonaro] tem ajudado muito esse país", elogiou o religioso. Denunciou um suposto "massacre" contra o presidente e anunciou que "agora são cinco contra dois".

Sem novidades em forma e conteúdo, o presidente insistiu na realidade paralela da cristofobia, de indicações "técnicas e adequadas" para ministérios e estatais, de uma suposta defesa das mulheres e do fim da corrupção - o "tiramos o assunto das manchetes dos jornais" só se aplica à tentativa de censura às reportagens do UOL sobre os imóveis comprados pela família do mandatário com dinheiro vivo. Como de praxe, recorreu à desresponsabilização quanto à violência política e ao orçamento secreto ("prerrogativa do congresso", "não sei para onde vai o dinheiro").

Acirrada mesmo foi a competição para o perfil de mais direitista do debate. Em cruzada antiaborto, padre Kelmon tentou explicar feminismo a Simone Tebet. Felipe D'Ávila (Novo) fez par com o religioso na defesa do estado mínimo. Depois, juntou-se a Soraya Thronicke (UB) na exaltação ao armamentismo. Ciro, por sua vez, pediu a Deus que iluminasse sua palavra. Propostas concretas pouco apareceram. "Até agora não discutimos nada neste debate sobre como o Brasil vai voltar a crescer", admitiu Felipe Dávila às 20h13, 1 hora e 58 minutos após o início do programa.

O mediador Carlos Nascimento repetia que o evento era obra do "maior pool de veículos de comunicação" do Brasil, mas ao menos na TV aberta a audiência foi tímida - o SBT registrou picos de 6 pontos em São Paulo. A influência na corrida eleitoral tende a ser baixa. Um retrato expressivo foram as imagens do estúdio 4. Destinado aos assessores, convidados e jornalistas, o espaço tinha cadeiras vazias e plateia desanimada.