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Rodrigo Ratier

REPORTAGEM

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Cásper Líbero demite professores, fecha mestrado e revolta alunos

scadaria da Cáper Liero fechada durante a pandemia - Andre Porto/UOL
scadaria da Cáper Liero fechada durante a pandemia Imagem: Andre Porto/UOL

Colunista do UOL

17/12/2022 15h35

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Lar do mais antigo curso de jornalismo do país, fundado em 1947, a Faculdade Cásper Líbero (SP) demitiu professores e fechou seu programa de mestrado em Comunicação.

A decisão causou revolta entre alunos e vem na esteira de uma série de mudanças - redução do quadro docente, diminuição do tempo de aula e incorporação de modalidades a distância - que sinalizam incertezas sobre o futuro da instituição.

Os alunos foram informados sobre o fim do mestrado na última segunda-feira (12), em reunião com a direção da faculdade. "Fomos pegos de surpresa", diz Alessandra Cristina Guimarães, representante dos alunos do mestrado. "A alegação é de que o curso ameaça a sustentabilidade financeira da instituição, mas a direção não mostrou nenhum número".

O mestrado da Cásper tem 21 estudantes e mensalidades de 3.038 reais. Dos oito docentes do programa, seis atuam também na graduação - o grupo mostrou à direção que mais de 60% da carga horária era cumprida no bacharelado e não na pós. O apelo não surtiu efeito.

A principal queixa é a forma como a faculdade está encaminhando o fechamento. Diferentemente de outras pós-graduações que também encerraram atividades, a faculdade não garantiu a formatura dos atuais alunos.

"A proposta é nos transferir para outras instituições. A direção disse que a decisão é 'incontornável' e que não há nenhuma possibilidade de diálogo", afirma Alessandra. "Estamos indignados e no escuro. As pesquisas são muito específicas, não é fácil encontrar uma faculdade que nos aceite."

Em nota, a Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Comunicação (Compós) denuncia o fechamento "de maneira unilateral". "Sem se abrir ao diálogo, [a Cásper Líbero] resolve encerrar as atividades do Programa de Mestrado, buscando transferir os alunos para outras instituições privadas e demitindo professores."

A pós-graduação em comunicação vive uma crise aguda. Nos últimos anos, ao menos quatro programas foram encerrados - além do da Cásper, fecharam as portas o mestrado profissional da FIAM-FAAM e da ESPM, ambas em São Paulo, e o mestrado e doutorado da Unisinos (RS).

"A motivação dos fechamentos e demissões sempre está vinculada à lucratividade que os cursos deixaram de trazer às instituições privadas de ensino", diz a nota da Compós.

Para Elizabeth Saad, professora sênior da ECA-USP e referência nos estudos sobre comunicação digital, o cenário é de "desmonte" da base de formação de pessoas que trabalham com as mídias. "Isso é danoso numa estrutura que entende a dominação da informação como arma de poder", afirma.

Demissões ontem, hoje e amanhã

Na sequência do fim do curso vieram as demissões de professores - e não apenas no mestrado. Até sexta-feira (16), cinco docentes já haviam sido desligados, três dos quais atuavam exclusivamente na graduação.

A coluna conversou com seis professores da Cásper em condição de anonimato por receio de represálias. Um dos relatos é de que os cortes foram recebidos com "choro copioso" pelos colegas.

"O clima é de desolação. O temor é que os desligamentos prossigam", afirma uma das docentes.

A coluna apurou que os cortes continuam na segunda-feira (19). No ano passado, houve demissão de cerca de um quarto do corpo docente sem reposição de vagas.

A Cásper tem atualmente 53 professores. Já chegou a ter mais de cem.

"No plano mais geral, as demissões no ensino superior são consequência das mudanças estruturais no setor, que têm a ver com o uso intensivo da tecnologia e mudanças na legislação", diz Sílvia Barbara, diretora do Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP). "Aulas presenciais são substituídas por EaD, a carga horária diminui e as salas passam a ter até 200 alunos", afirma.

A Cásper aposta em mudanças dessa natureza. O edital do vestibular 2023 traz uma nova grade de disciplinas com redução de 20% no tempo de aula.

Como a maioria dos docentes é horista, a expectativa é de que haja um corte proporcional nos salários. A instituição validou junto ao Ministério da Educação (MEC) uma graduação online em jornalismo e planeja introduzir aulas híbridas em 20% da carga horária dos 3º e 4º anos presenciais.

Na graduação, as mensalidades custam entre 2.903 reais e 3.476 reais. A faculdade tem cerca de 2 mil graduandos.

As novidades foram mal recebidas pelo Centro Acadêmico da faculdade. "As disciplinas de formação para o pensamento crítico sumiram", afirma Caroline De Tilia, estudante do 3o ano de jornalismo e membro do CA. "A faculdade não nos ouviu sobre a nova grade, não nos ouve sobre nada. Muitos professores demitidos neste ano e no anterior eram ótimos. Não há transparência, não sabemos o que está acontecendo", completa.

Outra queixa é de autoritarismo. A reforma curricular foi capitaneada por uma consultoria externa. Apenas uma parte dos docentes foi chamada a participar - ainda assim, segundo os docentes entrevistados, com pouca margem de mudança.

Um detalhe prosaico aparece de forma recorrente nos relatos. No meio do ano, uma campainha foi instalada na sala dos professores. Acionada por bedéis, ela evita que alguém permaneça fora da aula após o final do intervalo.

A coluna procurou a direção e a assessoria de imprensa da Cásper Líbero na sexta-feira (16). A direção não respondeu e a assessoria de imprensa informou que "na segunda-feira [19] a equipe dará o devido encaminhamento" à solicitação. A coluna observou que a reportagem seria enviada para publicação no sábado (17).

Havendo contato, o texto será atualizado. Abaixo, as perguntas enviadas à instituição.

Por qual motivo a instituição optou pelo fechamento do mestrado?

Por qual motivo a instituição optou pela transferência dos alunos para outras instituições?

O grupo de mestrandos e o CAVH se queixam de falta de transparência quanto à situação financeira da faculdade. Os balanços da instituição foram disponibilizados aos estudantes? É possível consultá-los?

A sustentabilidade da Cásper Líbero está ameaçada? A faculdade corre o risco de fechar?

Apuramos que até o momento a instituição já desligou 4 docentes. Haverá mais demissões? Qual a justificativa para os desligamentos?

Professores ouvidos pela coluna afirmam temer que a redução do tempo de aula em 20% gere um corte proporcional no salário dos horistas. Isso vai de fato ocorrer?

Apuramos descontentamento dos professores com o que descrevem como "clima de perseguição" aos docentes. Uma das queixas recorrentes é a instalação de uma campainha na sala dos professores. Qual o objetivo dessa medida?