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Rodrigo Ratier

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Já vai tarde o falso milagre antieducativo de Bolsonaro

Escola cívico-militar de Santa Fé do Sul recebeu visita de deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) - Divulgação
Escola cívico-militar de Santa Fé do Sul recebeu visita de deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) Imagem: Divulgação

Colunista de Ecoa

12/07/2023 15h14

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Para que serve uma escola? Resumindo ao máximo, há dois caminhos possíveis. Dá para pensar em uma instituição para enquadrar crianças e jovens, baseada na aprendizagem por repetição e no respeito às regras por receio de punição. De outro lado, pode-se conceber um lugar em que o objetivo é ensinar as pessoas a pensar por conta própria, um lugar que celebre as diferenças e justamente por isso entenda os conflitos como parte do processo. Uma instituição com regras que são respeitadas não por temor de represálias, e sim porque elas são entendidas como justas. Afinal, foram construídas coletivamente.

Cada um desses modelos de escola pressupõe uma visão específica sobre quem são os estudantes e seus potenciais; sobre que tipo de educação as classes populares devem receber (procure aí um rico que defenda uma escola linha-dura para seus rebentos); sobre o que é a educação, como se deve ensinar e aprender; sobre que tipo de sociedade ambicionamos construir.

O primeiro tipo de escola começa a ser sepultado a partir de hoje. O governo Lula anunciou que vai encerrar até o fim do ano o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim). Já vai tarde. Legado bolsonarista, é um legítimo representante do que foi seu Antiministério da Educação. Sem qualquer amparo em literatura consistente, seu mandato entregou a administração de mais de 200 escolas públicas a militares e policiais, enquanto na parte pedagógica as secretarias de educação seguriam tendo (aspas necessárias) "autonomia". O objetivo seria melhorar a segurança das instituições.

Trata-se de uma saída antieducativa, coerente com um Antiministério pautado pela demonização do conhecimento científico e de tudo relacionado a ele (sobretudo professores). Antieducativa porque a educação tem, sim, soluções para a questão da indisciplina. Elas passam por medidas de gestão participativa, diálogo e integração com a comunidade, justiça restaurativa, fortalecimento da infraestrutura e aulas com professores bem preparados e que façam sentido para os alunos.

Estratégias dessa natureza demoram a dar resultado, dizem os críticos. Assim é a educação: um trabalho laborioso de construção e reconstrução de modos de ser, agir e pensar. Forjado por quatro séculos de escravidão, o Brasil é um país violento, e a transformação dessa cultura é um trabalho de longo prazo.

Excetuados os oportunistas de ocasião, entende-se o apoio popular a soluções do tipo "tiro, porrada e bomba". Em muitos casos, a implantação das escolas cívico-militares contou com o apoio de uma população exasperada pela incivilidade e pela violência. Mas o enredo se repetiu e depois de uma curtíssima Lua de Mel, o relacionamento se tornou abusivo - que o digam as denúncias de censura a alunos ou reprimendas autoritárias bem ao gosto dos bolsonaristas.

Costuma-se depositar esperanças desmedidas nas escolas sem que se considerem suas formas de funcionamento e os tempos e movimentos para que demonstrem seus resultados virtuosos. O desconhecimento abre espaço a simplismos e falsas soluções. Acabamos de nos livrar de mais uma delas. É um bom momento para que cada um se envolva efetivamente com a educação - sobretudo a educação pública -, compreenda como ela funciona, colabore para que funcione melhor e seja respeitada como um campo de saber complexo e autônomo. Quem não tiver essa disposição que ao menos deixe os educadores e educadoras trabalharem, pois se trata de uma tarefa para profissionais.

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