Rodrigo Ratier

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'Última mensagem': palestino relata caos e diz que Sul de Gaza não é seguro

Hoje (29), entre 4h32 e 4h36 da madrugada no horário de Brasília (9h32 e 9h36 na Faixa de Gaza), uma série de frases telegráficas de Abdel (nome alterado) pipocam na tela do meu celular:

"Sou Abdel, de Gaza.
Nada está bom.
Buscamos segurança e paz.
Nossos lares estão destruídos sobre nossas cabeças.
Sem água, sem eletricidade, sem nada.
Nossa vida é como o fogo.
Essa pode ser minha última mensagem.
A morte nos cerca por todos os lados.
Precisamos parar esta guerra.
Somos vítimas.
Não somos o Hamas.
Somos civis.
Rezem por nós."

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Imagem: Reprodução

As mensagens trazem alívio e aflição. Alívio porque Abdel não contatava seus amigos, ex-alunos da Universidade de Oslo (Noruega), desde que eclodiu o conflito entre Israel e Hamas, em 7 de outubro. Aflição, claro, pela natureza do texto. Enviado logo após o restabelecimento da internet na faixa de Gaza, traz um registro da guerra que já dura 23 dias.

Faço parte do grupo de WhatsApp que reúne antigos estudantes da instituição norueguesa. Abbel é um profissional de saúde que atua em um hospital de Gaza há quase uma década. Para não colocar em risco a integridade do colega, optei por não divulgar seu nome completo nem detalhes que possam identificá-lo.

Mais de 9 mil pessoas foram mortas no combate até o momento: 1,4 mil delas estão do lado israelense e outras 8 mil do lado palestino (3,5 mil crianças), segundo autoridades locais.

O Sul de Gaza teoricamente estaria a salvo da ofensiva israelense. Alguém no grupo pergunta: "A fronteira Sul está segura?". "Não", diz a última mensagem de Abdel, enviada às 4h43.

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Imagem: Reprodução

"Como podemos ajudar?"

Repetida, a pergunta de vários dos 33 integrantes do grupo de WhatsApp ficou sem resposta.

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Em 2014, quando segundo fontes palestinas um ataque de Israel matou mais de 2 mil pessoas em Gaza, Abdel usou seus perfis nas redes sociais para pedir ajuda. "Minha casa foi destruída. Preciso de cerca de 7 mil dólares para reconstruí-la e comprar móveis", explicou à época em mensagem privada.

Hoje, com fronteiras fechadas e o estrangulamento para o envio de todo tipo de recurso, os caminhos concretos para o auxílio são virtualmente inexistentes. Nas duas mais recentes mensagens em seu perfil no Facebook, Abdel escreveu: "Tenha piedade de Gaza, ó Alá", em 13 de outubro, e "Alá nos basta", em 23 de outubro.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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