Príncipe Charles faz apelo ao setor privado em carta a favor do planeta
Em "O Príncipe", principal obra de Nicolau Maquiavel, o pensador florentino sustenta a ideia de que é sempre melhor um líder ser impetuoso do que cauteloso; sempre ter como virtude a coragem e a esperança de abraçar apenas causas justas.
Mais de 500 anos depois de escrito, o livro segue sendo atual. E parece inspirar a realeza moderna.
Que o diga o Príncipe de Gales. Charles Philip Arthur George Mountbatten Windsor, primogênito da Rainha Elizabeth e futuro Rei da Inglaterra, tomou para si a causa mais importante dos últimos tempos: a sobrevivência do ser humano num planeta ameaçado pela mudança climática.
Dentre os 20 títulos de nobreza que Charles possui, nenhum tem sido tão exaltado quanto o de "Sua Alteza Real, O Ambientalista"!
Ontem (11) mesmo foi dia de encantar os súditos ao lançar a Terra Carta, um apelo urgente assinado por líderes e CEOs dos principais investidores globais e de grandes empresas, com o objetivo de colocar a Sustentabilidade no centro dos negócios do setor privado. Dentre os signatários da Terra Carta destaca-se a BlackRock, maior gestora de capital do mundo, que administra US$ 7,4 trilhões em ativos. A mesma gestora que no começo de 2020 afirmou que estamos à beira de uma reformulação fundamental das finanças, sendo as mudanças climáticas um fator definidor das perspectivas de longo prazo das empresas.
O Príncipe Charles diz na Terra Carta que a ideia é "fornecer um roteiro integrado para um futuro inspirador, inclusivo, equitativo, próspero e sustentável para o bem das gerações presentes e futuras; um manual que irá aproveitar o poder da Natureza combinado com o poder transformador, inovação e recursos do setor privado."
As ações lançadas no âmbito da Terra Carta incluem a criação de uma Aliança de Investidores de Capital Natural com meta de US $ 10 bilhões até 2022. Dinheiro que ajudará o setor empresarial a adotar algumas das 100 ações descritas no documento. A maioria delas passa pelo cumprimento das metas do Acordo de Paris, compromisso mundial pra manter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2ºC; pelo alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), lançados pela ONU; pelo respeito a importantes marcos como a Convenção sobre Diversidade Biológica; a Convenção de Combate à Desertificação e a Convenção sobre o Direito do Mar, que apoia a proteção e restauração da biodiversidade, até 2050.
Foi um documento muito bem recebido pela comunidade internacional, sobretudo nesse momento em que se fala bastante sobre um plano de recuperação pós pandemia.
A Terra Carta é mais uma dentre várias iniciativas sustentáveis desenvolvidas pelo Príncipe Charles ao longo de 50 anos de ativismo ambiental.
No ano passado, ele lançou o Sustainable Markets Initiative (SMI), uma coalizão global de sustentabilidade, que reúne líderes do setor público e privado, chefes de instituições de caridade e investidores para trabalhar na descarbonização e na transição para mercados sustentáveis.
Ainda em 2020, aventurou-se pelo mundo da moda. Sua Fundação, a The Prince, associou-se ao site de vendas on-line Yoox Net-A-Porter,
no lançamento de uma coleção luxuosa com 18 peças, dez femininas e oito masculinas. O lucro é destinado a programas de formação que visem a preservação das tradições têxteis artesanais.
Em 2019, criou o A4S (Accounting for Sustainability) - projeto que quer inspirar empresas, por meio de seus executivos de finanças, a adotarem modelos de negócios sustentáveis e resilientes.
Os seus domínios também são verdes. O Príncipe é um entusiasta da agricultura orgânica. Em sua fazenda no Ducado da Cornualha, produz e vende ingredientes orgânicos para todo o Reino Unido. Também se tornou o primeiro membro da família real a ter um carro elétrico, um Jaguar I-PACE; possui há décadas um DB5 da Aston Martin que é alimentado por vinho e queijo derivados de bioetanol, um tipo de biocombustível. Cerca de metade do consumo de energia do seu escritório e do palácio onde mora vem de fontes renováveis.
O exemplo do herdeiro do trono britânico já dá sinais de longevidade. Seu filho, o Príncipe William, lançou em outubro o que espera se tornar o "Prêmio Nobel de Ambientalismo". O prêmio busca 50 soluções para os problemas ambientais mais graves do mundo. A promessa é conceder 50 milhões de libras (mais de R$ 360 milhões) ao longo de uma década.
Maquiavel teria agora um novo Príncipe para eternizar em sua assombrosa literatura. Afinal, para o lendário filósofo, "nada torna um príncipe tão estimado quanto realizar grandes empreendimentos e dar de si raros exemplos".
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