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Rosana Jatobá

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Volta oficial dos EUA ao Acordo de Paris é motivo de alegria e esperança

O presidente dos EUA, Joe Biden, ajusta a máscara enquanto assina uma ordem executiva - Tom Brenner/Reuters
O presidente dos EUA, Joe Biden, ajusta a máscara enquanto assina uma ordem executiva Imagem: Tom Brenner/Reuters

Rosana Jatobá

24/02/2021 04h00

Agora é oficial! Burocracia vencida, os Estados Unidos estão oficialmente de volta ao Acordo de Paris, tratado internacional firmado em 2015, que reúne 195 países com o compromisso de reduzir gases de efeito estufa (GEE) nas próximas décadas.

Motivo de alegria e de esperança. Quem sabe agora a nação mais poderosa do mundo consiga influenciar os governos a levar a sério as promessas assumidas no Acordo, e a redução das emissões de gases poluentes saia mesmo do papel.

O presidente americano Joe Biden anunciou uma série de medidas para alcançar uma economia de baixo carbono nas próximas três décadas e mobilizou todas as agências federais nesse sentido. Ele quer zerar as emissões norte-americanas até 2050. A equipe dele já está elaborando novos regulamentos e incentivos com foco na produção de energia limpa, sendo o pacote de estímulo à economia americana do pós pandemia uma mola propulsora do desenvolvimento de projetos renováveis.

E nós aqui "do lado de baixo da linha do Equador" estamos na mira da Casa Branca. "Ou o Brasil protege a floresta, ou sofrerá graves consequências", alertou Joe Biden.

Infelizmente o Brasil está cada vez mais distante dos compromissos que assumiu cinco anos atrás, quando assinou o Acordo de Paris.
E grande parte desse fracasso se deve à política ambiental do atual governo, que está virando as costas para as metas de redução de emissões, principalmente em relação ao desmatamento e as queimadas. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, o desmatamento atingiu o maior patamar em mais de uma década. Foram mais de 11 mil km² de devastação, a maior taxa registrada desde 2008, segundo dados do Inpe.

O número de incêndios na Amazônia em 2020 também já é o mais alto dos últimos 10 anos. No Pantanal, 2020 foi o pior ano desde 1998.
Só o Desmatamento gera 44% dos gases do efeito estufa emitidos no Brasil. Queimadas geram 28% dos gases. Juntas, essas duas fontes são responsáveis por 72% das emissões do país.

E por que o desmatamento e as queimadas são os grandes vilões na questão do aquecimento global e das mudanças climáticas? Porque a floresta em pé tem o poder de absorver dióxido de carbono, de retirar esse gás da atmosfera e estocar nas árvores e no solo. Quando se destrói a vegetação, seja derrubando árvores, seja queimando, ocorre liberação de grandes quantidades de CO2 no ar.

Pois bem. Quando o Acordo de Paris foi assinado para tentar reverter a crise climática, o Brasil era tido como um grande líder mundial da agenda verde e teve um papel de destaque no desenho do tratado. Inclusive com a então Ministra do Meio Ambiente Izabela Teixeira tendo sido chamada para destravar pontos essenciais das negociações entre os países.

Quais foram os compromissos assumidos por nós?

O Brasil se comprometeu a chegar a 2025 liberando 37% a menos de gases estufa na atmosfera em relação aos índices de 2005. Para 2030, o plano seria de redução de 43%. Além disso, nos comprometemos a zerar o desmatamento ilegal até 2030, e a restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até o fim de 2020. Nada disso aconteceu. Ao contrário!

Cinco anos depois, temos números recordes de queimadas e desmatamento, desmonte generalizado da fiscalização dos órgãos ambientais e um discurso do governo federal que só estimula os crimes contra o meio ambiente. Ou seja, o Brasil está isolado, considerado pária internacional, e com sua imagem cada vez mais arranhada no cenário global, afastando-se do que prometeu cumprir em Paris.

E além de não honrar as metas internacionais, ignora também as metas internas. A Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), regulamentada em 2010, fixou que em 2020, o desmatamento da Amazônia deveria atingir uma área máxima de 3.925 km². Atualmente a taxa está três vezes acima da meta de 2020. Especialistas dizem que se continuar assim, com esse descaso em relação à preservação ambiental dos nossos biomas, será necessário rever as promessas e submeter novos números à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCC), que é quem gerencia o Acordo de Paris.

O problema é que sem cumprir as metas, não tem financiamento através de fundos internacionais, como o Fundo Amazônia, que está suspenso por inabilidade do governo.

Por isso, no nosso caso, olhar para um futuro sustentável significa voltar atrás, como fizeram os Estados Unidos.