Descarbonização da indústria é oportunidade promissora para o Brasil
Os diversos eventos climáticos extremos observados nos últimos meses, como ondas de calor inéditas e enchentes, ampliaram as expectativas para a COP29. Não surpreende que o baixo valor aprovado para o financiamento climático tenha sido decepcionante para muitos, com um texto vago sobre quem paga e quem recebe.
A eleição de Donald Trump nos EUA gerou apreensão extra sobre a possível retirada do país do esforço global contra mudanças climáticas com uma política que prioriza petróleo e gás. A tensão aumentou quando Ilham Aliyev, presidente do Azerbaijão e anfitrião da COP, defendeu os combustíveis fósseis como dádivas divinas.
Ainda assim, o acordo sobre o Artigo 6 do Acordo de Paris, que regulamenta mercados de carbono, trouxe otimismo sobre avanços no financiamento climático.
A impressão que fica é que faltou uma ação mais eficiente no alinhamento prévio das entregas da COP - num processo em que certamente a diplomacia brasileira teve um papel importante em favor do multilateralismo, pois o risco foi grande de não se chegar em acordo nenhum. Ainda, a preocupação quase que exclusiva de várias delegações com as agendas internas de seus países pesou nessa direção.
Mas é inegável que a pauta em Baku também proporcionou questões relevantes para a agenda da transição energética. A principal delas foi o fato de a descarbonização industrial ter assumido um protagonismo inédito na pauta, refletindo a possibilidade de transformação dos processos produtivos como alternativas para mitigação dos impactos ambientais dos países.
Trata-se de uma oportunidade promissora para o Brasil e para o mundo, uma vez que o país pode liderar essa agenda e utilizá-la como um estímulo para seu próprio desenvolvimento socioeconômico, ao mesmo tempo em que contribui na descarbonização de outras nações.
Nosso país pode usar seus recursos energéticos renováveis para descarbonizar indústrias existentes e atrair novos investimentos nessa área, ampliando a fabricação de produtos de baixo carbono e com maior valor agregado. Ou seja, uma condição que pode reduzir nossas próprias emissões e colaborar com a descarbonização de outras nações, e ainda com a vantagem adicional de proporcionar retornos financeiros típicos de projetos industriais de alta competitividade.
Evidentemente que esse modelo depende da superação de desafios, como a aceitação, pelo resto do mundo, de rotas de descarbonização biogênicas nas quais nosso país tem grande potencial, como o uso de biomassas e biocombustíveis, em relação às quais técnicos e econômicos, como o hidrogênio de baixas emissões.
Também é fundamental frisar que, muito além dos benefícios ambientais, esse tipo de investimento industrial pode proporcionar taxas de retorno competitivas, como parte de um movimento mais amplo de capitais internacionais em busca de oportunidades de investimento.
Dessa forma, além de trabalhar para ampliar com clareza o volume de financiamento climático direto negado pelos países ricos, temos de buscar alternativas convencionais que coloquem isso em prática mesmo que sem essa chancela, mas com efeitos tão positivos quanto.
É inegável a relevância de acordos climáticos internacionais para forçar mudanças, estimular as sociedades a saírem da inércia e agirem de maneira efetiva contra as mudanças climáticas. De qualquer forma, é imprescindível que esses grandes movimentos sejam acompanhados por ações menos ambiciosas, mas também muito promissoras, como investimentos na descarbonização do setor produtivo. E o Brasil tem muito a fazer nessa direção, inclusive à frente da COP30.
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