Toda expressão é uma tentativa de atender necessidades
Quem começa estudar Comunicação Não Violenta (CNV) muitas vezes entende que a proposta é identificarmos quando a comunicação (nossa e das outras pessoas) está sendo "violenta" e então modificá-la ou suprimi-la.
Outro dia, durante uma entrevista, me perguntaram "como é uma comunicação violenta, segundo a CNV?"
Expliquei que, estudando com professores de diversos lugares do mundo, lendo todos os livros disponíveis sobre o assunto, experimentando em minha própria vida e praticando no meu dia a dia há mais de 10 anos, no meu entender a CNV não classifica nenhuma comunicação como "violenta".
Ao contrário, aprendemos que qualquer forma de expressão é uma tentativa de atender necessidades humanas universais. Em vez de julgar a maneira como as pessoas se comunicam, procuramos entender e nos conectar com essas necessidades e valores que estão por trás de qualquer fala ou ação.
Aprendemos como exercitar a empatia e compreender mais profundamente as motivações que levam as pessoas a falar o que falam e agir como agem. É um exercício de conexão e compaixão, e não de julgamento e repressão.
Ao mesmo tempo, considero importante ressaltar que compreender não significa concordar, aceitar, permitir ou submeter-se. Eu posso entender as motivações e valores mais profundos que levam uma pessoa a fazer algo, e ao mesmo tempo discordar completamente do que ela está fazendo e das estratégias que está usando para tentar atender suas necessidades.
Por exemplo, se vejo uma criança batendo em outra, em vez de julgá-la mal-educada, agressiva, desrespeitosa, egoísta, carente etc., posso fazer um movimento de empatia em sua direção e buscar compreender o que poderia tê-la levado a fazer isso. Talvez ela quisesse participar da brincadeira e não estava conseguindo, talvez estivesse se defendendo pois queria respeito por parte da outra criança, talvez ela quisesse atenção e consideração. Qualquer que seja a motivação, compreendê-la não significa concordar, aceitar ou passar panos quentes. Significa que, a partir desse olhar empático e compassivo, minha intervenção para interromper passa a vir de um lugar interno com a intenção de proteger e não de acusar, culpabilizar ou punir.
Uma ação embasada nesta atitude interna de compreensão e proteção tem mais chances de trazer uma transformação efetiva e sustentável, restaurando as relações, do que uma ação punitiva, que muitas vezes gera ressentimento, raiva e retaliação, perpetuando o ciclo de violência.
A CNV também nos ajuda a ter mais consciência sobre nossos valores e o que realmente é importante em nossas vidas, e então podemos verificar se nossas ações estão de fato alinhadas e suprindo nossas necessidades ou não. A partir daí, podemos escolher cada vez melhores estratégias para atendê-las. Podemos inclusive experimentar nos expressarmos de outras formas, que nos apoiem a sermos melhor compreendidos.
A CNV sugere focarmos nossa atenção e nossa fala em nossos sentimentos e em nossos valores ou necessidades humanas universais, (naquilo que é mais valioso e importante para nós), em vez de expressarmos nossos julgamentos e avaliações sobre as coisas. Não porque julgamentos e avaliações sejam de alguma forma errados ou ruins, mas porque talvez não nos apoiem tanto se queremos ser melhor compreendidos, gerar confiança e conexão em nossas relações.
CNV não significa silenciamento ou nos forçarmos a falar de uma certa maneira. Ao contrário, nos ajuda a termos mais consciência, compreensão e liberdade para experimentar nova qualidade de relação com as pessoas à nossa volta, com mais transparência, honestidade, compreensão e empatia.
Se você quer saber mais sobre Comunicação Não Violenta, existem vários livros já traduzidos para o português. Acesse também o site: http://sinergiacomunicativa.com.br/
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