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Sérgio Luciano

Que o conflito seja o começo e não o final de uma conversa

12/08/2020 04h00

Conflitos. Todo mundo tem, nem todo mundo cuida. Tem pessoas que decidem lidar com os impactos por si mesmas, e nunca expressam o desconforto. Já outras, ao menor sinal de conflito fogem e desconversam, igual diabo foge da cruz. Há quem impute sobre o outro 100% da culpa da situação, e quem assuma 100% da culpa pra si.

Nisso tudo, um pensamento comum por trás: conflito é uma merda.

Mas, será possível aprendermos a lidar de forma mais sadia com os conflitos? Quais olhares podem contribuir para isso? E quais qualidades podem nos ajudar a estarmos o mais inteiros possível e aproveitarmos a preciosidade que conflitos escondem?

Para seguir a leitura, entendamos os conflitos como situações onde surgem diferenças entre duas ou mais pessoas, que nascem da percepção de que não é possível atender, simultaneamente, aos interesses de todos os envolvidos.

Para alguém ganhar, alguém precisa perder?

Via de regra, aprendemos a enxergar o conflito como uma queda de braço. Tão logo eles surgem, entramos no modo ataque/defesa. Nesse momento, para alguém ganhar, o outro vai precisar perder. Invariavelmente. E, normalmente, ganha quem tem mais força e/ou poder.

Pense brevemente sobre conflitos recentes, ou antigos, que você teve. Em quais deles você saiu vitorioso e outro lado perdedor, ou vice-versa? Em quantos houve uma ruptura, ou esfriamento, na relação? Foram conflitos pessoais, familiares, organizacionais?

Em quantos houve a possibilidade de diálogo, escuta e compreensão entre as partes? Nesses, em quais a relação saiu mais fortalecida ou, a depender, houve uma ruptura saudável da relação?

Para transformar a queda de braço em uma exploração conjunta de possibilidades de resolução, que dê conta de cuidar satisfatoriamente dos interesses de todas as pessoas envolvidas, é importante transcender a disputa por verdades. Entender o conflito como parte inerente às relações e uma oportunidade de crescimento.

Da briga pela razão à abertura ao diálogo

Expressar nosso ponto de vista é fundamental. Ter um espaço para cada pessoa trazer suas dores, preocupações, medos, inquietações. Ainda que não seja gostoso escutar e não concordemos com as impressões dos outros, ou eles com as nossas.

Porém, se nos prendemos fortemente a essa única voz, a tendência é entrarmos num ciclo infinito de culpa e acusação, perdermos de vista do que de fato aconteceu e nos distanciarmos da possibilidade de uma solução que cuide de todos os envolvidos.

Quando penso em abertura ao diálogo me vem em mente uma provocação que sempre trago nos cursos que facilito, sobre comunicação e empatia:

Só podemos pensar numa solução que seja boa para todos se conseguimos, primeiro, ouvir e compreender o que é importante para o outro. Mas aí vem uma pegadinha: - dificilmente alguém terá disponibilidade para escutar o outro se não tiver espaço, primeiro, para se expressar e ser escutado naquilo que tem para trazer.

Imagine o diálogo como uma dança entre o expressar para ser ouvido e o escutar para compreender (veja meu texto da semana passada). Mas se ambos estão com necessidade imensa de ser ouvidos, quem vai se dispor a fazer o convite para essa dança?

Da minha experiência, tenho aprendido que desenvolver habilidades socioemocionais nos ajuda a, nesses momentos de conflito, nos permitirmos oferecer escuta e compreensão para o outro e iniciar a dança (exploro mais sobre esse tema aqui nesse blog).

Lembrando que oferecer escuta não significa ser melhor que outro, tão somente é uma responsabilidade que assumimos ao acreditar que os conflitos podem ir para além da disputa por verdades.

E quando o diálogo parece não funcionar mais?

Algumas vezes acontece que, mesmo no diálogo, parece não haver saída. Seja na vida profissional ou pessoal. O convívio se torna difícil, conversas parecem cada vez mais escassas, combinados não duram mais que uma semana, surgem silêncios como forma de "manter a paz" na relação, brigas sobre o mesmo assunto, ou "por qualquer coisa", se tornam mais e mais recorrentes, começa-se uma busca por aliados e alimenta-se fofocas sobre a outra parte, etc.

Se perdurar, a tendência é a relação se desgastar cada vez mais, até seu rompimento (muito diferente de um término amigável e por decisão consciente). Algumas vezes, seguida de medidas judiciais para reparar alguma dor ou impacto que tenha existido para uma ou ambas as partes.

Porém, existe uma possibilidade ainda pouco conhecida que é a mediação de conflitos. A mediação proporciona um ambiente seguro e confidencial onde as partes recebem ajuda de um mediador para explorarem e compreenderem a fundo o que está acontecendo e o que é importante para cada uma e elaborarem soluções que funcionam para ambas. Processo esse guiado através de uma estrutura que visa a escuta empática e tem enfoque no futuro desejado para a relação.

Aliás, se você tem uma situação onde gostaria de uma mediação, seja no ambiente pessoal ou profissional, saiba que o Instituto Mediativa oferece mediações gratuitas, realizadas por estudantes que passaram pelo curso de mediação oferecido pelo instituto. Você pode conhecer a proposta e enviar seu caso clicando aqui.

Que o conflito seja o começo e não o final de uma conversa.