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Tomas Rosenfeld

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Uma empresa milionária que não distribui lucros

Ecosia: o mecanismo de buscas que doa árvores - Reprodução/Ecosia
Ecosia: o mecanismo de buscas que doa árvores Imagem: Reprodução/Ecosia

25/05/2021 06h00

Empresas sociais geralmente são pequenas. Segundo estudo da União Europeia, a Alemanha não é uma exceção: no país, a maior concentração de empresas sociais se encontra na faixa de faturamento entre € 100 e € 250 mil anuais. Apenas 6% faturam mais do que € 5 milhões. Dentro deste seleto grupo estão duas das mais conhecidas empresas sociais no país: Einhorn (tema da última coluna) e Ecosia.

Assim como o Google, a página inicial da Ecosia tem fundo branco e minimalista. Diferentemente da gigante norte-americana, contudo, vemos no site do mecanismo de buscas alemão um conjunto de nove dígitos em contínuo movimento. Os números em tons claros de azul indicam a quantidade total de árvores plantadas pela empresa - enquanto escrevo, o valor se aproxima dos 126 milhões. No canto superior direito, vemos ainda o desenho de uma pequena árvore, onde acompanhamos o nosso impacto individual enquanto buscadores.

Segundo o cálculo da empresa, são necessárias 45 buscas para plantar uma árvore. Como qualquer outro mecanismo, a Ecosia ganha dinheiro com cliques nos anúncios que aparecem acima e ao lado dos resultados da pesquisa. A empresa recebe alguns centavos para cada clique, cujo valor exato varia de acordo com a palavra (segundo a seção de perguntas e respostas do site, alguns termos como "crédito" ou "painel solar" vêm com anúncios mais lucrativos do que, por exemplo, "chocolate" ou "notas adesivas").

Levando em consideração que nem todo usuário clica em um anúncio, a empresa calcula ganhar em média € 0,5 centavos por pesquisa. Seguindo essa conta, chega-se ao número médio de 45 buscas para financiar o plantio de uma árvore.

De acordo com Muhammad Yunus, economista e Nobel da Paz, o equilíbrio entre o aspecto econômico e os objetivos socioambientais de uma empresa social dificilmente será atingido se o lucro obtido não for inteiramente reinvestido na própria organização.

Fiel a essa definição, a Ecosia não paga dividendos aos seus proprietários. Assim, todos os lucros ficam dentro da empresa e são usados para o plantio de árvores ou reinvestidos em outras causas ambientais.

Os relatórios financeiros são publicados mensalmente no site. Enquanto escrevo, o mais recente traz informações de abril deste ano, quando faturaram mais de € 2,2 milhões, dos quais 48% foram destinados ao plantio ou proteção de árvores ao redor do globo. Do faturamento total, descontaram-se apenas os gastos com as operações, impostos e publicidade da empresa, além de € 270 mil (12%) destinados a novos investimentos verdes (como o desenvolvimento de plantas de painéis fotovoltaicos ou atividades ligadas à agricultura regenerativa). No último mês, a Ecosia destinou recursos para o plantio de quase 7 milhões de árvores.

Segundo a empresa, as plantações são feitas nos locais onde são necessárias. As áreas de plantio estão divididas em 26 países, em locais do Sul global como Sudão e Etiópia, mas também do Norte, em regiões da Inglaterra e Canadá. Entre os beneficiários está também o Brasil, para onde fluem, desde 2012, fundos focados na restauração da Mata Atlântica. Somente no país, foram mais de 10 milhões de árvores, em áreas que somam quase 5 mil hectares.

Os números da Ecosia impressionam, tanto no aspecto econômico, como em termos de impacto. Diante do sucesso, poderíamos criticamente pensar: como ter certeza de que o que começou com uma pequena zebra não vai se tornar um imenso unicórnio? Não seria a primeira vez que veríamos essa trajetória, em que uma organização se vê seduzida por lucros bilionários e abandona seu propósito inicial. Falaremos mais sobre o assunto na próxima coluna.