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Tomas Rosenfeld

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Uma ideia maravilhosa

A fábrica Natex, instalada em 2008 na cidade de Xapuri, no Acre - Tomas Rosenfeld/ Acervo pessoal
A fábrica Natex, instalada em 2008 na cidade de Xapuri, no Acre Imagem: Tomas Rosenfeld/ Acervo pessoal

26/04/2022 06h00

Minha experiência mais recente na Amazônia foi uma composição de sucessivos momentos de abertura e fechamento, entusiasmo e frustração.

Em um dos momentos positivos, ouvi falar sobre a Natex. Instalada em 2008 na cidade de Xapuri, no Acre, a fábrica foi criada para produzir preservativos masculinos a partir do látex natural, extraído da floresta. Os preservativos, por sua vez, eram destinados ao Ministério da Saúde, que os distribuía gratuitamente como parte do programa de combate às doenças sexualmente transmissíveis.

A iniciativa reunia, por um lado, o incentivo à produção sustentável em uma cadeia de valor tradicional da sociobiodiversidade amazônica. Por outro, o produto era todo destinado à promoção de políticas públicas na área da saúde. Da minha perspectiva, a combinação parece brilhante.

Além disso, a fábrica foi instalada em um local simbólico para a produção extrativa da borracha. Xapuri tem uma longa história com esse produto florestal e é ainda conhecida por ser a cidade natal de Chico Mendes. O seringueiro e ativista ali viveu ao longo de toda a sua vida.

Quando ouvi falar pela primeira vez na Natex fiquei entusiasmado. Achei-me também um tanto besta por já ter escrito sobre a produção sustentável de látex para preservativos, realizada por uma empresa social alemã, sem conhecer um exemplo ainda mais interessante no meu próprio país.

Contudo, depois da admiração pela descoberta, soube que a fábrica havia fechado. O orgulho transformou-se em frustração.

Pelo que pude pesquisar, o único cliente da fábrica era o governo federal e a descontinuidade das políticas públicas obrigou a indústria a fechar as portas. Quando estive em Xapuri, pude ver os portões da fábrica fechados. Nessa ocasião, tirei uma foto que ilustra essa coluna. Nela, ainda se enxergam resquícios do antigo logo do governo federal, não integralmente escondido pela tinta branca, na parte inferior da placa.

Infelizmente, essa não foi a única porta que vi fechada nesta pequena cidade do interior acreano. A casa de Chico de Mendes foi o local onde o líder seringueiro viveu e foi assassinado em 1988. O espaço havia sido tombado pelo IPHAN e convertido em um museu. Quando chegamos ali, contudo, fomos informados pelos vizinhos de que a casa se encontra fechada para visitantes, já há alguns anos.

É claro que não se pode perder o entusiasmo e certo otimismo, mas é duro ver tantas portas fechadas.