Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Você sabe quem são os influencers da inclusão?
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Ágata Íris é de Cabo Frio, na região dos lagos, no Rio de Janeiro. Ivan Baron é de Natal, Rio Grande do Norte. E todos os dias eu me encontro com ela e com ele logo pela manhã. Seus perfis no Instagram não falam da rodada do futebol, nem da última grande briga do último grande reality show da TV, mas cultivam atenção, engajamento e respeito.
Ágata e Ivan fazem parte de um time de pessoas que entendeu rápido que na era do excesso de informação, a forma é tão importante quanto o conteúdo em si. Ainda mais se você quer furar a bolha, provocar conversas sobre mudanças na sociedade. O caso dela, o caso dele.
Influencer da inclusão
Influencer da inclusão. É assim que Ivan se apresenta no Instagram. Por lá desde janeiro de 2013, o potiguar viu na rede social um ótimo lugar para exercer sua vocação de educador, traduzindo os desafios diários e mostrando todas as formas de violência enfrentadas pelas pessoas com deficiência. Aos 3 anos de idade, já próximo a falar e andar, Ivan teve meningite viral que causou uma paralisia cerebral.
"Eu sou viciado em redes sociais e senti a necessidade de ver um conteúdo engraçado e ao mesmo tempo informativo", me explicou, ressaltando que "a gente deve usar o humor de forma correta, não fazendo piadas sem graça que possam diminuir as outras pessoas".
E é isso, Ivan misturou redes sociais e humor para influenciar comportamentos inclusivos das mais de 110 mil pessoas que o seguem. Criando cenas com o ritmo e a linguagem da internet, ele ilustra situações que fazem parte do universo de uma PCD - pessoa com deficiência. A conversa é aprofundada nos comentários.
Mais que criar conteúdos do zero, o que Ivan faz muito bem é entrar nas conversas que já estão fortes nas redes, e a partir dali passar a sua mensagem. Foi assim durante o Big Brother Brasil 21. Grande campeã do programa, Juliette foi figura constante nas suas publicações. Foi a partir de comportamentos e falas dela que ele explicou o que era capacitismo, por exemplo.
"A gente precisa falar a língua do povo, e isso também envolve o que eles gostam de ouvir, ler ou prestar atenção. Por isso faço metáforas de assuntos do momento e adapto para o meu nicho", detalha. No sábado (22), Ivan recebeu Juliette numa live que reuniu pessoas de todos os cantos do Brasil. Um público que, possivelmente, tenha pouco ou nenhum contato com a sua luta.
Uma pergunta inspira um novo conteúdo, que inspira novas perguntas, que faz nascer mais e mais conteúdos. O caminho é um pouco este. Uma troca. Algumas perguntas sempre voltam, me contou, e foi daí que nasceu a ideia de lançar um livro, de levar para o papel as conversas das redes.
"Sempre surgiam dúvidas sobre o capacitismo, se tal atitude era capacitista, e eu precisava respondê-las manualmente quase sempre. Então, eu pensei, porque não montar um material rápido, didático e com aquele toque de humor para as pessoas terem acesso?". Assim nasceu o e-book Guia Anticapacista, no começo deste ano.
"Eu não me defino, mas digo que sou"
A filha de 18 anos de Daniela Santos Viera, se contou assim quando perguntei como deveria apresentá-la nessa conversa: "Sou uma travesti preta, gorda e pansexual. Dizer isso é falar sobre como eu estou vulnerável. E é na minha vulnerabilidade que eu encontro minha arte".
Ágata Pauer, como é conhecida, existe para tantas coisas no mundo que não caberia nem começar a listar por aqui. Você percebe isso no encontro com ela, em como os assuntos caminham para ali e para aqui na mesma velocidade em que você se encanta por tudo que escuta, que aprende, que troca. Batizou de Transbabado as entrevistas que faz aos sábados, e foi ali que passou a entender que as redes sociais têm uma linguagem própria.
A ideia, ela me contou, não é de modo algum educar as pessoas cis que se acumulam para assistir os papos, semana a semana. Cis é a pessoa que se apresenta ao mundo e se identifica com seu gênero designado ao nascer.
"Minhas lives não estão ali como um método de reeducá-las, pelo contrário. Quero falar sobre os nossos atravessamentos, adoecimentos. Sobre os empoderamentos, orgulhos, sobre o que é ser uma pessoa transvestigeneres para, aí sim, impactar as outras pessoas que estarão ali escutando".
Ágata encontrou um jeito de comunicar não apenas o que vem estudando, o que anda sentindo e conversando por aí, mas como construir uma comunidade ao redor do seu perfil. De juntar pessoas parecidas para se conhecerem, se reconhecerem, trocarem ideias. Enfim, se apoiarem. Mas quer também chamar outros públicos para o papo.
"Eu comecei com o quadro para falar de transfake da novela A Força do Querer. E aí eu vi que as pessoas tinham gostado dessa estrutura de cena, de episódios, e passei a investir", me contou. Transfake é quando um ator ou atriz cis atua personagem trans.
Ela diz que em seus conteúdos busca "conectar a teoria com a prática, mostrando os comportamentos humanos". Quando traz para o dia a dia da maioria das pessoas, quando dá um contexto para sua mensagem, acredita, a chance de se fazer compreendida aumenta muito. A mensagem chega longe.
"A gente precisa criar uma comunicação afetuosa, aquela que afeta e desafeta as pessoas. Uma em que a gente não apenas reescreva a nossa narrativa e tenha um conteúdo didático, mas que possamos também tocar na raiz das opressões, que muitas vezes vem da cultura popular e do imagético social", justifica.
Um exemplo disso é quando ela usa músicas que fazem sucesso para criar pequenos esquetes em cima. "Eu consigo fazer isso usando a arte e jogando com os estereótipos que o meu corpo, por si só, carrega. Para subverter essas marcações".
Não é sobre rir de tudo
Ágata indica cuidado e atenção, pois existe uma linha tênue entre dar leveza, criar uma linguagem acessível e transformar tudo em piada. "Muitas vezes, quem consome conteúdo nas redes sociais quer colocar as travestis, unicamente, neste lugar de conteúdo cômico", observa. "Que se humilhe ali para a cisgeneridade, que vai rir, o conteúdo vai viralizar, hiper marcando o corpo naquela condição". E isso é tudo que ela não quer, fazendo o que faz. "Precisamos criar novas qualidades em ser travesti, em ser preta, gorda e pansexual".
Nem é sobre imitar quem já faz sucesso
Sonho de tantas pessoas, não existe uma fórmula pronta para fazer sucesso na web falando sobre assuntos que interessam e mudam o mundo. Mas Ivan arriscou algumas sugestões: "Sendo você mesmo e parando de querer imitar as outras pessoas. Pode parecer clichê, mas quando você coloca sua própria identidade, cria sua persona, as coisas evoluem e consegue atrair mais pessoas", finaliza.
Três pessoas que o Ivan sugere você seguir:
@vanessagrao
@luisapitanga
@deives
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