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Tony Marlon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como foi o seu primeiro voto? Ativistas relembram

Urnas para as eleições de 2022 - TSE
Urnas para as eleições de 2022 Imagem: TSE

31/03/2022 06h00

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Segundo o TSE, mais de 850 mil jovens entre 15 e 18 anos deram entrada na emissão do título de eleitor até agora. No Brasil, o voto é facultativo para quem tem 16 e 17. Quase 100 mil pedidos aconteceram em apenas cinco dias, entre 14 e 18 de março. O prazo para solicitar o documento, e conseguir participar da eleição de outubro, termina em 4 de maio. Ou seja, falta pouco mais de um mês. É preciso correr.

Nas últimas semanas, diversas personalidades usaram as suas redes sociais, e até festivais de música como o Lollapalooza, para estimular as juventudes a tirarem o título de eleitor. E isso não foi uma coincidência. Os números mostram que a participação de jovens em idade de votar tem caído eleição após eleição.

Em janeiro de 2014, por exemplo, apenas 19,5% haviam tirado o título, o menor índice desde que os dados passaram a ser medidos, 20 anos antes. Em 2018 melhorou um pouco: 21,3%. Mas o que acendeu o sinal de alerta mesmo foram os números do começo deste ano: apenas 10,8% pediram o título até 1º de janeiro. Foi nesse contexto que brotou a campanha Olha O Barulhinho, que fez a mensagem crescer e ocupar o debate público. Pautou as redes sociais por dias, mobilizou até artistas de fora do país.

É verdade que política não se faz apenas com o voto que oferecemos a este ou àquela candidata. Nosso almoço ou jantar é uma escolha política. A roupa que deixamos de vestir é escolha política. Para onde, e como, levamos as conversas de família também. Em essência, viver é um ato político. O voto é só um trecho dessa música, mas tão importante quanto todos os outros.

Essa queda no número de jovens que, em podendo votar não o faz, diz mais sobre como a política institucional anda plantando desesperança e desilusão em nós, do que aponta um desinteresse das juventudes na política como o espaço de mediação da vida coletiva. É só procurar nos lugares certos, ou andar por aí, com máscara, por favor, para sentir e saber a realidade: as juventudes do Brasil nunca produziram tanto o futuro que a gente precisa, nunca fizeram tanta política em seu dia a dia. As estruturas, todas elas, é que não sabem ler e conversar com essa turma. Mas isso é um outro assunto, que merece mais tempo.

É fundamental que consigamos aumentar, em muito, o número de pessoas que irão votar pela primeira vez em 2022. O Brasil nunca precisou tanto de um novo horizonte a seguir, de novos repertórios de futuro. O Olha o Barulhinho traz como meta que dois milhões dos jovens aptos a votar peçam seu título este ano. Estamos em 40% deste objetivo, com mais um mês pela frente.

Como foi seu primeiro voto?

ivan - Divulgação - Divulgação
Ivan Baron
Imagem: Divulgação

"Meu primeiro voto foi com 16 anos, durante as eleições de 2014. Na época eu cursava o 2º ano do ensino médio. Existia muita expectativa, principalmente porque envolvia a eleição presidencial. No meu meio de colegas todos tinham posicionamentos e a gente fazia de tudo para levar o debate sobre política para os outros jovens, que se recusavam a falar sobre o assunto. Desde muito novo eu fui um ?jovem ativista?. Foi por conta disso a minha necessidade urgente também de tirar o título e de alguma forma ajudar a decidir os rumos do coletivo. Algumas pessoas do meu convívio, a maioria das mais velhas, ainda falavam para eu não ter tamanha pressa para votar e que não adiantaria de nada, já que para eles o ?Brasil tava perdido?. Claro que eu não dei o mínimo de atenção para isso. Lembro até hoje que no dia da votação eu estava morrendo de ansiedade, acordei cedo, coloquei a roupa com cores do meu lado político e saí para exercer meu direito de cidadão. Acredito muito que nós enquanto jovens precisamos SIM fazer questão de votar e não desacreditar no nosso potencial. É através dele que alcançamos direitos e dignidade para as futuras gerações."
Ivan Baron, produtor de conteúdo e influencer da inclusão. Natal, RN.

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Antonia Moreira
Imagem: @_rafakennedy

"Foi em 2014, eu tinha 18 anos. Estava no primeiro ano da faculdade e havia saído de Lins, minha cidade no interior de São Paulo, para estudar em Campinas. Como eu sabia que estaria por lá, fiz o Voto em Trânsito. Ele me permitiu votar apenas para presidente, que foi o que eu fiz. Foi uma eleição que me marcou, pois era o começo dessa polarização mais intensa que estamos vivendo. Participava do movimento estudantil, então, pude estar em muitos atos, em discussões sobre qual Brasil gostaríamos para o futuro. Eu peguei o microfone várias vezes e me fiz presente com as minhas ideias nestes espaços. Na época eu tinha um blog, então eu escrevi muitos artigos incentivando as pessoas a tirarem seu título. Mas também falava sobre a importância de um deputado, de um senador. Muitas vezes não sabemos e esquecemos em quem votamos na última eleição."
Antonia Moreira, Ateliê TRANSmoras. Campinas, SP

Luana - Tiago Coelho/UOL - Tiago Coelho/UOL
Luana Pereira
Imagem: Tiago Coelho/UOL

"Fiz 16 anos em 2009 e o meu título tirei no ano seguinte. Eu estava muito ansiosa para votar, me sentindo adulta com isso. Ainda estava entendendo mais sobre política, não tinha ainda um aprofundamento. Mas eu estava comprometida de verdade em votar bem. Quando olho para trás, discordo de alguns dos meus votos, mas isso também me ensinou muito sobre uma necessidade que temos de uma formação política para os jovens. De eles saberem qual é o papel do senador, do deputado federal, de um presidente. Aprender quais são as atribuições de cada um. Entender que é possível ter acesso a isso. Eu só fui entender, de verdade, no meu trabalho de conclusão de curso na faculdade, com 21 anos. Me lembro com muita alegria do meu primeiro voto, mas também dessa necessidade de uma formação política. Não basta só ir votar."
Luana Pereira, pesquisadora nas áreas de relações raciais e de gênero, direito e sociologia. Membro da Comissão Especial da Igualdade Racial - OAB/RS. Porto Alegre, RS

Max Maciel - Luanh Bastos - Luanh Bastos
Max Maciel
Imagem: Luanh Bastos

"Graças ao Rap, o meu olhar político começou muito cedo. Eu sou de 1982, e naquela época não existia um estímulo para tirar o título de eleitor. Então, quando completei 16 anos não tirei meu título, apesar de já acompanhar e querer participar ativamente da política. Foi com 18 anos que tirei e votei pela primeira vez. Era muito mais que um mix de esperança, era a participação real para além do discurso. Porque eu já estava fazendo mobilizações nas escolas antes do primeiro voto, no Grêmio Estudantil. Mas votar foi diferente. Eu senti que aquilo fazia diferença, sabe. Foi surreal essa experiência. Foi um grande divisor de águas para mim, pois eu saí de um lugar de observação e discussão para um lugar de interferir na possibilidade de transformação."
Max Maciel, pedagogo, ativista e empreendedor social. Ceilândia, DF

kinda - Divulgação - Divulgação
Kinda Silva
Imagem: Divulgação

"Não tenho memória de ter ido na cabine com meus pais na infância. Só chegava na sala eleitoral e ficava ouvindo todos aqueles barulhinhos. Então, na minha cabeça era como um portal no qual alguma mágica ali aconteceu. Minha primeira vez votando foi um dia intenso: aproveitei pra mergulhar de cabeça na participação cidadã de diversas maneiras. Era 2012, eleições municipais, e eu que já tinha buscado me envolver nas discussões sobre os candidatos, aproveitei o dia de votação para, com minha prancheta na mão, coletar o máximo de assinaturas pelo Desmatamento Zero, uma proposta de lei de iniciativa popular mobilizada pelo Greenpeace. Sozinha, no auge dos 16, e uma cara de 13, encarava aqueles olhares de estranhamento do que aquela menina estava fazendo. Mas eu me sentia incrível e gigante. O voto era a cereja do bolo. Naquele dia eu aprendi que poderia fazer muito mais pelo país do que eu acreditava ser possível."
Kinda Silva, coordenadora geral do Engajamundo. Feira de Santana, Bahia

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL