Topo

Tony Marlon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

E se o debate fosse como a propaganda eleitoral: em todas as rádios e TVs?

 Candidatos à presidência da República no debate da Band; Ciro Gomes, Lula, Bolsonaro e Simone Tebet                              - Reprodução/Band/Renato Pizzutto
Candidatos à presidência da República no debate da Band; Ciro Gomes, Lula, Bolsonaro e Simone Tebet Imagem: Reprodução/Band/Renato Pizzutto

Colunista do UOL

02/09/2022 06h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Há uma semana no ar, o horário eleitoral gratuito ocupará rádio e TV até 29 de setembro. Durante pouco mais de um mês, a ideia é que a população conheça melhor com programas e chamadas menores, os planos das candidaturas para o país e seus estados. Dá tempo, funciona?

Gratuita para nós, pero no mutcho, as emissoras devem ter renúncia fiscal de cerca R$ 737 milhões este ano. Ou seja, não é bem gratuito. Se a ideia é qualificar o processo coletivo de escolha de quem irá nos representar, e andamos precisando, por que os debates não entram nessa conta? Pergunta sincera. Não sou inocente, seria uma logística complexa em eleições municipais, por exemplo. Mas existem pessoas bem pagas para pensar isso, meu foco são os nossos interesses cidadãos.

Hoje em dia os debates são organizados pelos veículos de acordo com a sua programação, agenda e, por que não, interesses. Do outro lado, as candidaturas dizem sim ou não de acordo também com sua programação, agenda e, especialmente, interesses. Não é raro que, estando em primeiro lugar, a pessoa não faça lá muito esforço para debater suas ideias. Ou a falta delas.

Além de tudo isso, o período de campanha é curto para o tanto de compromissos e convites. Neste ano, algumas candidaturas acenaram com a ideia de que os debates fossem realizados em pools. Ou seja, que jornais, revistas, rádios e canais de TV se juntassem. Resolve uma questão, mas andei pensando em muitas outras.

Tendo que acordar às 4 horas da manhã para pegar o ônibus já cheio para o trabalho, quem é a pessoa que consegue sustentar o corpo e o interesse num debate que, muitas vezes, passa da meia noite? Ou, fora do horário nobre da nossa atenção diária, quantas tem condições de organizar a vida para sentar-se, respirar e escutar o que as candidaturas têm a dizer sobre o preço do arroz que ela irá comprar amanhã? Eu sei, você é suficientemente interessado a ponto de dar um jeito e assistir tudo que aparece pela frente. Mas a nossa mãe já ensinou um dia: você não é todo mundo. Nem eu, que não perco um.

Outro dia me peguei pensando assim: se a campanha tem um mês, seria um debate por semana, como parte do horário eleitoral gratuito. Na primeira semana aconteceria no horário da novela, na segunda no do futebol de domingo. Na terceira do almoço em família e na quarta semana a gente vê. Todos ao vivo, em rede para todos os veículos. Obviamente que aqui estou falando de uma eleição nacional, o nosso caso em 2022.

Mais do que a forma, meu convite é para olharmos o conteúdo: se são essas as pessoas que irão construir as oportunidades para termos uma existência melhor que hoje, individual e coletivamente, o embate de seus planos e ideias não precisaria atravessar as nossas vidas? Ser algo mais fácil e prático que ter que dormir quase uma da manhã, quando seu despertador toca às 3 horas?

Imagino que devam existir um milhão de questões para que ideias como essa nunca tenham sido implementadas. Quem sou eu na fila do pão — que infelizmente nem todo mundo tem para comer nesse momento — para descobrir nesse setembro uma ideia que ninguém nunca teve ou tentou. Mas fica aqui a utopia. Eu confio que são as perguntas que movem o mundo, não necessariamente as respostas.

Porque se a sua vida e a minha dependem, em alguma medida, da vida dessas pessoas que iremos eleger em breve, eu quero mais é que elas debatam todos os dias para eu saber onde depositar minha esperança. Você não? Ficar frente a frente não deveria ser, apenas, uma escolha estratégica delas, mas o feijão com o arroz, o básico que nem todo mundo tem hoje no prato, para quem quer ocupar cargos tão importantes feito esse.