Topo

Tony Marlon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Silvio Almeida: Discurso de ministro mostra o país que queremos construir

Silvio Almeida tomou posse do cargo de ministro dos Direitos Humanos nesta terça-feira (3) - Matheus W Alves/Futura Press/Estadão Conteúdo
Silvio Almeida tomou posse do cargo de ministro dos Direitos Humanos nesta terça-feira (3) Imagem: Matheus W Alves/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

07/01/2023 06h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

De quando em quando, alguém escreve algo que deixa uma marca no tempo. O mundo é construído com símbolos e gestos, mas são as palavras que costuram a história.

Foi assim quando Martin Luther King contou o seu sonho ao mundo, e nada foi igual depois. Ou quando a Sueli Carneiro falou em audiência pública na Suprema Corte sobre o acesso ao ensino superior pelas pessoas negras brasileiras. A história construída sob os nossos olhos.

Até com então candidato à presidente dos Estados Unidos quando esteve em New Hampshire. Era 2008 e Barack Obama saudou a todas e todos com um sim, nós podemos. A frase virou cartaz, camiseta, música cantada aos quatro cantos.

Palavras que fundam uma perspectiva de mundo entregam a quem as lê e escuta um mapa. O discurso de posse do Ministro de Estado de Direitos Humanos e Cidadania, professor Silvio Almeida, é um desses exemplos, eu arrisco dizer.

Nele estão presentes todos os elementos que não nos deixam esquecer a experiência daquelas palavras. Mais que isso: nos foi entregue uma espécie de bussola conceitual de valores e aspirações. É impossível ficar indiferente.

Se me pedissem hoje para escolher algo que simbolizasse a nossa urgente busca por uma refundação da república brasileira, eu recomendaria o discurso do professor Silvio.

O Brasil mergulhou nos últimos anos numa espiral de violências, não que não fosse assim antes. A diferença é que a de agora é autorizada, auto-orgulhosa. Quem se acredita a maneira certa de viver o mundo não admite, e mais, não permite que outras formas possam avançar a vida. Virou política de Estado uma maneira única de ser, de estar, de amar.

Alguma coisa deu muito errada com o nosso plano de viver juntas, é preciso corrigir a rota o mais rápido que pudermos.

Quando o professor Silvio diz o que disse, uma luz nessa direção se acende no horizonte.

Uma luz que reagrupa um conjunto de crenças que afirma que já fomos melhores que hoje, bem melhores, e voltaremos a ser. Me tocou tanto seu discurso por que como alguém apaixonado pelas palavras, eu sei o quanto elas tem um poder de encanto e mobilização.

Me tocou tanto seu discurso porque eu vi em suas palavras o Brasil que eu quero construir, que tanta gente quer e vai construir.

"Trabalhadoras e trabalhadores do Brasil, vocês existem e são valiosos para nós.
Mulheres do Brasil, vocês existem e são valiosas para nós.
Homens e mulheres pretos e pretas do Brasil, vocês existem e são valiosos para nós.
Povos indígenas deste país, vocês existem e são valiosos para nós.
Pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, travestis, intersexo e não binárias, vocês existem e são valiosas para nós.
Pessoas em situação de rua, vocês existem e são valiosas para nós.
Pessoas com deficiência, pessoas idosas, anistiados e filhos de anistiados, vítimas de violência, vítimas da fome e da falta de moradia, pessoas que sofrem com a falta de acesso à saúde, companheiras empregadas domésticas, todos e todas que sofrem com a falta de transporte, todos e todas que têm seus direitos violados, vocês existem e são valiosos para nós."

Que as palavras do professor Silvio, que já nascem históricas, sejam uma espécie de refúgio utópico a quem não abre mão de um mundo radicalmente acolhedor a todas formas de viver o Brasil e o mundo.

Que todas as vezes em que nos percamos, mesmo que por alguns segundos, da Terra Prometida para onde caminhamos dia a dia, nos lembremos de voltar a elas.

E que elas, linha a linha, nos lembrem que há muito trabalho a ser feito. Mais que a recompensa dessa tarefa histórica é uma vista bonita de nós mesmos.