Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Faltam 90 segundos para o fim do mundo; entenda o relógio do Juízo Final
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Aniversariante de ontem, 26, a filósofa, escritora e professora estadunidense Angela Davis defende que devemos agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E completa: temos que fazer isso o tempo todo. A considerarmos uma notícia dessa semana, Angela nunca esteve mais certa. Segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos, estamos a 90 segundos da autodestruição do planeta Terra.
Essa história começou um pouco depois da Segunda Guerra Mundial, em 1947. Preocupadas com a corrida armamentista e os riscos de uma guerra sem igual entre os países, cientistas decidiram por criar um símbolo que trouxesse alguma reflexão e consciência às atitudes e decisões mundiais, especialmente entre as lideranças políticas. Parece não estar funcionando muito. Um relógio virou a metáfora perfeita.
Quanto mais perto da meia-noite, mais próximos estaríamos da extinção. A contagem foi aberta em 7 minutos, há 76 anos. Na terça-feira, 24, alcançou o menor tempo desde então: 1 minuto e meio para meia-noite.
Guerras, em especial a invasão russa na Ucrânia, contribuíram para esse recorde simbólico, que não deixa de ser uma espécie de aviso sobre os riscos que andamos correndo. E o pior, riscos que são frutos das nossas próprias decisões como humanidade - ou, de uma parte dela.
As tensões nucleares foram o elemento principal dos cálculos por um tempo, é só a gente pensar no contexto do mundo na época em que o projeto começou - a Guerra Fria. Na atualização dessa semana, elementos como o risco de novas pandemias e o aquecimento global ganharam destaque entre as grandes ameaças. Cientistas e especialistas nas mais diversas áreas fazem os cálculos, divulgados a cada janeiro. Fiquei curioso para entender quais outros elementos são considerados, como é essa reunião.
Precisamos de símbolos, sempre foi assim. São eles que nos ajudam a trazer para o chão, para a prática e o dia a dia, coisas que ficam no campo das ideias e que, muitas vezes, são difíceis de serem conversadas. Um exemplo do poder dos símbolos: o escudo do seu clube de futebol.
Quando você o publica nas redes sociais, ou veste uma camiseta em que ele aparece, quem compartilha do seu amor pelo time rapidamente entende que tem em você alguém que se parece com ela. Em alguma coisa, mas tem. Símbolos traduzem sentimentos e ideias, mas unem as pessoas ao redor de coisas e causas, também.
Para chamar a nossa atenção sobre as muitas decisões erradas que andamos tomando como grupo - a humanidade, nada melhor que um relógio que alerta que nunca estivemos mais perto da meia noite. Reforço que se trata de decisão, pois sabemos o que acontece quando um governante escolhe negar a ciência e as urgências climáticas. Ou, quando decidimos que essa pessoa seja nossa representante.
Se o Brasil tivesse o seu próprio relógio, o que precisaríamos levar em conta além do racismo, a lgbtfobia e o feminicídio? Ao contrário dos ponteiros que carregamos nos pulsos, com esses do juízo final, como o chamam, não existe a chance para um novo dia. A metáfora está aí, entende quem quer.
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