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RPG do Sertão: jogo para celular conta história de cidades e poetas de PE
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O cineasta e pesquisador Jefferson Sousa, de 28 anos, está sempre à procura de contar as histórias do Sertão do Pajeú, em Pernambuco, de jeitos que emocionem e apaixonem o interesse de cada vez mais pessoas. Ele é de Itapetim, ali da região.
Encantar o olhar feito aconteceu comigo, tem alguns anos atrás, quando a Lívia Duarte me mandou Leonardo Bastião - O Poeta Analfabeto, e me disse assim: assista, e eu assisti - espalhei para quem pude, desde aquele dia. Não perca.
O filme, um dos três que Jefferson já produziu desde então, registra os versos do agricultor Leonardo Bastião, hoje com 78 anos de idade. Sem ler ou escrever, Bastião constrói e guarda na oralidade a sua poesia popular de valor incalculável - que merece todo dia mais ouvidos, e terá. O filme rodou vários países, em muitos festivais. Ganhou, por exemplo, como melhor roteiro, na Bósnia.
Foi longe. Feito a inquietude de Jefferson vai para contar ao restante do mundo que o seu canto do mundo tem uma sorte danada em parir poetas. Agora ele me vem com um jogo para celular. Um jogo em que a sua cidade, e outras da região - São José do Egito, Tabira e Afogados da Ingazeira, são reinos a serem desbravados por quatro personagens que você pode escolher na palma da mão. Um deles é um ex-vaqueiro - Cícero. A importância e o poder disso não estão escritos.
Um jogo em que o maior prêmio é o destino - um reino encantado em que estão poetas que fizeram o Sertão do Pajeú ser quem, você vence quando alcança essas personalidades - mas também é o caminho - se avança de fase conversando com personagens locais, sabendo as suas histórias, descobrindo mais sobre as suas cidades - como nasceram e chegaram até aqui?
Jefferson tem uma preocupação sobre isso, que o jogo não seja recebido exclusivamente como algo educativo - ele pode ser melhor jogado por crianças a partir dos 10 anos, defende. O jogo é um jogo, como tantos que existem. E mesmo que "alguém desavisado o baixe, sem saber a história da poesia que está por trás, ainda sim vai conseguir atravessar as fases direitinho", ele explica. Mas prestar atenção aos detalhes é ainda melhor, diz. "É que nada que eu botei ali é por acaso".
A REALIDADE COMO UM GRANDE TABULEIRO
A Bodega do Zé - e a sua prateleira enorme de coisas a vender e de reclamações dessa arruaça que não para, é só chegar alguém e começa tudo de novo. A estrada - que liga uma cidade a outra, e tem ali as cruzes pelo caminho, que a gente sabe, infelizmente são sobre vidas que não chegaram aonde haviam planejado. O jornalista, que na história é um blogueiro inspirado numa pessoa que existe e tudo - cheio das perguntas que apontam caminhos a se seguir, ou não, você é quem sabe. É um jogo.
Batizado de "As Aventuras de um Pajeú Encantado", ficou "Pajeú Encantado" nas lojas de venda de aplicativos para celular. O jogo é grátis, já tem versão para Android e já chegando para o IOS. Jefferson começou a estruturar a ideia em agosto do ano passado e em novembro a primeira versão estava pronta, que ele testou numa escola.
A demora para ficar disponível, explica, é porque as plataformas precisam liberar. Elas olham item por item, e não é por menos - questão de segurança. Pajeú Encantado pode ser baixado no mundo todo, livre para todas as idades.
É uma estrutura clássica de RPG, daqueles jogos de tabuleiro. Você escolhe um personagem, daí ele vai andando pelos reinos conhecendo pessoas e encontrando desafios, enquanto acumula poder e desenvolve as suas habilidades. Conseguindo tudo isso sem se machucar, passa de fase. E enquanto passa de fase, aprende bastante coisa sobre a literatura do sertão, sobre a poesia do Pajeú.
?É uma aventura ficcional com o seu próprio enredo, com batalhas e aventuras em um universo de realismo fantástico, mas, no plano de fundo, vai ensinando, sem pressionar a pessoa jogadora, assim como com o cuidado em repassar corretamente as informações historiográficas e culturais", explica Jefferson. O jogo já virou tema de uma das aulas de Português da Escola Municipal para Aulas Digitais (EMAD), da Rede Municipal de Ensino da Prefeitura de Recife.
Pessoas feito o Jefferson e ideias como essa me interessam contar pelos Brasis que ensinam ao Brasil que é preciso prestar mais atenção aos seus filhos e filhas. Que há muita coisa sendo acontecida igual a esse jogo, que merece as atenções e os investimentos institucionais - sejam eles privados ou públicos. Jefferson construiu tudo isso com os recursos de um micro fundo, uma política pública da Secretaria de Cultura do Pernambuco.
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