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Tony Marlon

REPORTAGEM

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Escolhida sede da COP30, periferia de Belém fez COP própria em fevereiro

Cop das Baixadas foi realizada em Belém - Andre Butter/Negritar
Cop das Baixadas foi realizada em Belém Imagem: Andre Butter/Negritar

Colunista de Ecoa, em Santos (SP)

31/05/2023 04h00

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A cidade de Belém, no Pará, foi escolhida pela ONU como sede da histórica COP 30, que acontecerá em novembro de 2025. O anúncio foi feito semana passada pelo governo federal. A conferência é o mais importante espaço sobre as questões climáticas do mundo, mobilizando movimentos sociais, especialistas e chefes de Estado. No entanto, essa não será a primeira COP que a capital paraense conhecerá.

Historicamente mais afetadas pela crise climática do planeta, ao mesmo tempo em que ainda pouco conseguem ocupar e protagonizar os espaços tradicionais de debate e influência sobre o tema, as periferias foram o ponto de partida e de chegada da COP das Baixadas, evento piloto criado por 17 coletivos de Belém em fevereiro deste ano. Foram 3 dias de mesas on-line e encontros ao vivo.

O encontro começou a tomar forma dentro de outro projeto do coletivo Gueto Hub, que nasceu e trabalha a partir do bairro de Jurunas, uma das periferias da cidade. Ruth Nayane, que faz parte do coletivo, explica que a ideia inicial era se concentrar nos desafios daquela região, por isso COP das Baixadas, mas a ideia fez sentido para muitas pessoas de outros cantos e ganhou a dimensão que ganhou: mais de 400 pessoas estiveram nos momentos presenciais.

"Percebemos que a maioria das pessoas ainda vê a crise climática na Amazônia como algo distante de sua realidade", explica Ruth, para quem existem dois grandes desafios: "Nosso trabalho é explicar que elas já estão sendo afetadas por tudo isso, todos os dias. Além de fazer toda a linguagem técnica sobre o assunto ficar mais acessível".

A COP das Baixadas falou sobre direito à cidade, comunicação e clima e sociedade. A preocupação, o tempo todo: ligar a conversa à vida dos moradores e moradoras de Belém, especialmente das periferias. Outro grande cuidado foi trazer as juventudes para dentro da discussão.

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COP das Baixadas, evento piloto criado por 17 coletivos de Belém
Imagem: Mario Costa/Negritar

"Acreditamos na educação climática e ambiental como o melhor caminho para que tenhamos mais aliados e para que estejamos seguros na defesa dos territórios e do clima", detalha Ruth, que aponta este como o primeiro dos três eixos de ação do trabalho do grupo até 2025.

"O segundo é a da articulação, unindo os movimentos de base, coletivos culturais e ONGs para demarcar o lugar da sociedade civil nas conferências, principalmente da Amazônia. E a terceira seria de protagonismo e descentralização de recursos e espaços, uma vez que ao longo do tempo a agenda ambiental se tornará cada vez mais transversal". Para ela, "para que haja Justiça Climática é preciso enxergar atores de vários contextos discutindo o futuro da agenda e do planeta".

A aliança que se organizou para colocar a COP das Baixadas no mundo se transformou numa rede, que mira influenciar ativamente a construção de uma COP 30 que converse, de verdade, sobre o que é preciso ser conversado. E que coloque nas mesas de debate e negociação os verdadeiros protagonistas da conversa mais importante do nosso tempo. O grupo já foi recebido pela prefeitura de Belém e tem participado de reuniões em Brasília. Para Ruth, é preciso trabalhar para que essa oportunidade histórica não se perca.

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Cop das Baixas, em Belém
Imagem: Isabelle Ferreira/Negritar

"Nós, a população amazônida, precisamos ser os maiores protagonistas dessa COP" defende a historiadora. "Reivindicamos que haja uma participação mais igualitária, diferente do que vemos em outras edições, em que a população nem entende o que está acontecendo em sua cidade. Muito menos como isso pode impactar as suas vidas".

As periferias e favelas do Brasil fazem acontecer conversas urgentes e poderosas como essa todos os dias. Nem todo mundo fica sabendo. É necessário apoiar pessoas e coletivos para que a COP 30 seja um marco na história da discussão climática mundial. E isso passa, diretamente, por criar condições econômicas e financeiras para que essas populações protagonizem esse momento.

"O financiamento de projetos assim é muito difícil para a região norte", Ruth chama a atenção. "Os acessos e o apoio financeiro ainda estão concentrados no sudeste. A maioria dos ativistas da nossa cidade vive numa correria infinita, se dividindo entre os seus empregos e ocupar os espaços de debate sobre o tema", explica.

O conteúdo da COP das Baixadas está disponível na íntegra no canal coletivo do Telas em Movimento no Youtube e pode ser acessado aqui.

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