Tony Marlon

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Opinião

Caso Braskem: No Brasil, o descaso é parte da paisagem

Antes de virar assunto nacional na semana passada, o maior desastre socioambiental em solo urbano do mundo havia sido denunciado este ano no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. O que acontece em Maceió primeiro ganhou a atenção e os espaços internacionais para só depois repercutir nacionalmente, como se espera de algo tão grave. Por quê?

Em junho, a Evelyn Gomes desembarcou na Suíça para uma série de encontros e reuniões. Criadora do Observatório Caso Braskem, que monitora, organiza e distribui informações e dados sobre o caso, ela foi uma das pessoas que ocupou a tribuna da ONU para denunciar o afundamento do solo e as consequências sociais e humanas que vêm junto. Você soube disso?

O caso é estudado e denunciado por ela e tantas outras pessoas a partir de Alagoas há 5 anos e, mesmo assim, Evelyn conta que recebeu incontáveis negativas de apoio para que o seu trabalho ao menos continuasse a acontecer. Para ir à ONU, por exemplo, ela precisou contar com apoios pontuais e a sua rede de amizades. É dezembro de 2023 e o Observatório Caso Braskem segue sem apoio financeiro.

Evelyn Gomes, criadora do Observatório Caso Braskem
Evelyn Gomes, criadora do Observatório Caso Braskem Imagem: Arquivo Pessoal/Synara Holanda

Fica a pergunta: se a questão ambiental é a principal conversa do mundo hoje, como grupos mobilizados como esse não conseguem apoio para fazer um trabalho indispensável para a produção de justiça?

Colunista Ecoa, Rodrigo Ratier escreveu mais um ótimo artigo - quando não escreve? -, nesta semana. Nele, o professor faz o caminho de interesse e, especialmente, de desinteresse de grande parte da mídia tradicional em contar histórias como essa de maneira sistemática. O título é "Imprensa que levou 5 anos para noticiar tragédia em Maceió deve se repensar" e pode ser lido aqui. Um trecho:

"O jornalismo é dinâmico, mas alguns de seus valores são prevalentes: na definição do que é notícia, o CEP e a classe social são, sim, fatores tácitos de decisão". Lembrei do Gilberto Gil, que disse outro dia numa entrevista: "Uma vida é uma vida. E nesse sentido todas têm o mesmo valor". Ou deveriam ter.

Quem acompanha jornalistas como a excepcional Géssika Costa, da Olhos Jornalismo, portais como o Marco Zero Conteúdo, Mídia Caete ou iniciativas como o Observatório Caso Braskem, sabe de perto como tem acontecido a destruição física, social e emocional na capital de Alagoas, ano após ano. Essas mídias, inclusive, se juntaram no projeto Redação Nordeste para cobrir os afundamentos.

Estranho que seja necessário que o chão de uma capital tão importante precise afundar para que a história ocupe o horário nobre da atenção nacional. Essa parte do país importa diferente, pessoas tomadoras de decisão?

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No Brasil, lideranças quilombolas e indígenas continuam sendo mortas, dia após dia, pelo simples fato de defenderem os seus direitos. Pelo 14º ano consecutivo, somos o país que mais matou pessoas trans em todo mundo. No Brasil, uma cidade só ganha a atenção que merece para as suas dores quando o seu chão começa, literalmente, a afundar. No Brasil, o descaso parece fazer parte da paisagem.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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