STJ usa R$ 950 mil em reforma de casa de ministro: o que você faria?
Segundo a ONU, o Brasil tem 21 milhões de pessoas que não têm o que comer todos os dias. Este é o mesmo país em que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) investirá R$ 950.868,81 para reformar uma casa para um dos seus ministros.
[Nota do editor: a casa era ocupada pelo ministro Felix Fischer, que se aposentou em agosto de 2022. Segundo fontes do STJ, depois de passar pelas benfeitorias, o imóvel deverá ser habitado pelo ministro Benedito Gonçalves. A assessoria de imprensa do STJ não confirmou nem negou que ele será o novo morador.]
O imóvel funcional que passará por obras tem piscina, jardim e fica no bairro mais valorizado da capital federal. Com o que devem ganhar, os trabalhadores que mantêm essa estrutura funcionando todos os dias conseguem, se conseguirem, um lar bem longe dali. E vão depender de transporte precário e caro para chegar no horário.
Na reforma serão trocadas bancadas, instalações hidráulicas, sanitárias e pluviais, instalações elétricas e para TV e instalações de ar-condicionado. O muro e o portão também serão trocados, assim como a calçada da frente da casa. A justificativa é que não há obras desde 1997. Um ministro do STJ ganha mais de R$ 30 mil por mês, só de salário, mas tem um imóvel desse porte para o seu descanso. Realmente estamos no mesmo país?
Irônico dizer isso, mas, justiça seja feita, o STJ não está inventando a roda. Como exemplo, o presidente da Câmara dos Deputados recebe mais de R$ 33 mil de salário, mas tem direito a uma residência com 800 metros quadrados no Lago Sul, área nobre de Brasília. Benefícios do tipo se estendem para inúmeros cargos da estrutura pública, bancados com o dinheiro que você e eu desembolsamos nos impostos. Por quê?
É bem possível que haja uma explicação muito convincente para tudo isso. Sempre há.
Com ela virão justificativas, dados e histórias que provam por que alguém com uma renda muito acima da média mensal de um trabalhador comum, detentor de considerável poder político e prático, e beneficiário de diversos privilégios, precisa receber financiamento estatal para sua casa, incluindo a reforma de uma propriedade que nem é sua.
Sugiro não perguntarmos a quem se beneficia, mas para uma dessas 21 milhões de pessoas em situação de fome:Te parece justo tudo isso?
Escuto aqui e ali: o Brasil é um país fundado e sustentado na violência e na exploração. Irmãos, os termos se entrelaçam para produzir dor e revolta na boca de quem não tem nem o básico para sustentar a vida: um prato de arroz, feijão e salada.
O país do futuro que o Renato Russo cantou lá atrás, mas que nunca chega, só será de todas as pessoas, para todas as pessoas, com todas as pessoas, se alguém ousar ter a coragem para romper com séculos dessa lógica perversa de privilégios para poucos, em detrimento de muitas obrigações para todo o restante de nós.
Lembrei do Oswald de Andrade, em Serafim Ponte Grande: "O Brasil é uma República Federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus. Depois todos morrem". Eu completaria: mas alguns de nós farão isso sem nunca terem tido a chance de uma piscina no quintal de casa.
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