Tony Marlon

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Única brasileira em lista da Time, Marina Silva merece mais nossa atenção

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é uma das cem pessoas mais influentes do mundo em 2024, segundo a revista Time. A única brasileira do grupo. A publicação dos EUA escolhe, ano a ano, personalidades que alimentam mudanças sociais, políticas, culturais e ambientais pelo planeta.

Essas listas não fazem muito sentido para mim quando são tomadas como verdade ou como definitivas. Qualquer reconhecimento é o ponto de vista de alguém ou de um grupo de pessoas. E toda pessoa ou grupo lê o mundo a partir de uma visão de mundo e seus interesses. Logo, espelha isso nas escolhas.

Por exemplo, numa lista como essa faltam para a mim o pesquisador e jornalista Ronaldo Matos. A articuladora e comunicadora para políticas públicas Mariana Belmont. A mobilizadora cultural e social Yane Mendes. A escritora Dona Jacira, a poeta Karinne Costa. Eu poderia ficar três dias dizendo nomes. E faltariam dias.

Mas, eu sei também a importância política que é figurar numa lista assim: as cem pessoas mais influentes do mundo. E é por isso que eu estou celebrando o reconhecimento à existência e ao trabalho de Marina Silva. Te conto por quê.

A dinâmica que o debate político ganhou nos últimos anos colocou nos cantos quem valorizava a mediação e a convergência pelo interesse comum. Surfando na lógica das redes sociais, ganhou atenção e palco quem gritou mais alto. Saiu de cena a moderação, entrou a performance. Não conheço ninguém mais prejudicada pela ascensão do espetáculo como discurso do que Marina.

Recaiu sobre ela uma série de estereótipos. A maioria deles construídos pelo marketing político mais rasteiro. Deu no que deu, fomos ao abismo do colapso democrático. Que Marina era indecisa, enquanto ela sempre nomeou o que defendia. Que Marina reaparecia apenas de quatro em quatro anos, enquanto ela sempre defendeu que cargo político não é carreira ou profissão para ficar lá, agarrado. Que ela parecia ser frágil demais para responsabilidades tão grandes, o mais puro suco da misoginia.

Marina atravessou tudo isso e está aí, uma das cem pessoas mais influentes do mundo. Outro dia nomeada assim: uma das poucas que pode ajudar a salvar o planeta Terra. Olha a responsabilidade dessa frase.

Marina atravessou meio mundo de palavras horríveis, de estratégias subterrâneas de desconstrução da sua reputação. Ela foi atacada por muitos lados, pelo simples fato de que todos os lados que a atacaram sabiam o quanto ela trazia ao debate público um outro modelo mental e visão de mundo. Buscava sintetizar outro projeto de futuro, fundado em outras bases humanas.

Me lembrei de uma conversa que tive com ela alguns anos atrás, quando estávamos trocando experiências e pensamentos sobre educação. Em determinado momento me senti com a responsabilidade de dizer que concordávamos naquilo tudo que estava sendo dito, mas que eu divergia dela em muitos outros pontos. Marina pegou a minha mão, olhou bem dentro dos meus olhos e disse: "Eu não quero a sua aprovação, neste momento eu só preciso da sua escuta."

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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