Tony Marlon

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Opinião

Congresso reforça a ideia de que é um país à parte do Brasil

De tempos em tempos, o Congresso Nacional reforça a ideia de que é um país à parte do Brasil. Ou, no mínimo, uma realidade paralela com alguns milhões para gastar em seus próprios interesses. Na maior parte do tempo. Nesta semana aconteceu duas vezes algo que deveria nos mobilizar ao desespero. Sem contar o que passou e a gente nem soube.

No apagar das luzes de uma sessão, na última terça-feira (28), a Câmara dos Deputados sinalizou não ver problema que existam clubes de tiros a menos de 1 quilômetro das escolas públicas ou privadas. Ou seja, está permitido que no caminho da sua filha ou filho até a aula de matemática as pessoas se reúnam para treinar disparos com uma arma de fogo. O texto vai ao Senado. Consegue piorar.

No mesmo dia, em sessão conjunta da Câmara e do Senado, o Congresso manteve um veto presidencial de 2021 contra a criminalização das fake news. A decisão sinaliza para a sociedade não ser uma grande preocupação responsabilizar pessoas e grupos políticos que espalham intencionalmente mentiras e desinformação para manipular a percepção pública nas eleições. O que muitas vezes é feito com recurso público, importante dizer. Ou seja, dinheiro do seu e dos meus impostos usados contra nós mesmos.

A cada nova eleição se lê que o parlamento ficou mais conservador. Essa notícia é tão previsível quanto aquela reportagem do Fantástico com as candidaturas mais curiosas e engraçadas, no domingo à noite. A Câmara dos Deputados é a casa que representa a sociedade brasileira em seus grupos, classes e interesses. Numa democracia não é apenas normal que aquele lugar tenha pessoas que pensem a partir de bases muito diferentes, mas é um sinal de as instituições estão funcionando como deveriam. Ou, apenas funcionando.

Ou seja, que há um espaço institucional para a negociação entre os diferentes, entre as diferenças, em busca de uma convergência rumo aos interesses comuns das pessoas que saem para trabalhar às 5 da manhã.

O que me espanta, não sei se espanta você, é pensar a quem interessa atravessar um clube de tiros no caminho de crianças e adolescentes que estão indo para a aula. Ou, a quem interessa não responsabilizar quem espalha mentiras produzidas em escala industrial para manipular a sociedade.

Mesmo entre pessoas completamente diferentes, com trajetórias de vida completamente diferentes, que professam fé e defendem visões de mundo completamente diferentes, algumas coisas me parecem ser o básico da vida. Ou seja, há algumas ideias ao redor das quais a gente se junta, pois é impossível pensar diferente. De tão elementar, óbvio, básico, que aquele pensamento é. Por exemplo, nunca use mentiras para levar vantagem. Por exemplo, nunca normalize que armas de fogo ao lado de uma escola.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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