Por que jogadores de Galo e Bahia entraram em campo com uma bola de gelo?
É o que dizem: antes tínhamos uma atenção para cada coisa. Era uma conversa por vez. Se estávamos na TV, estávamos na TV. Vinha a novela das sete da noite, depois o jornal que resumia uma parte do mundo como se aquilo fosse tudo que havia acontecido nas últimas 24 horas no mundo todo. E se você perdesse essa chance de se atualizar, tinha mais uma chance ali por volta da meia-noite. Vários canais colocavam no ar jornais que fechavam o dia. Há um tempo que isso tudo mudou.
Se no passado o nosso ciclo de notícias tinha 24 horas, hoje não passa de alguns minutos. Com as redes sociais, cai para alguns segundos. Se o chão de Tóquio tremer às 13h27, às 13h28 teremos as primeiras manchetes em todos os portais. É o encurtamento do tempo e do espaço. O que faz com que, entre outras tantas coisas, aconteça o inevitável: é muita informação vinda de todos os cantos, a todo momento. Uma hora a gente cansa.
E outra: quantidade não é qualidade. Temos ficado exaustos com a espuma, enquanto conversas importantes para a vida nem nos alcançam. No ao vivo e no digital. Seja por causa dos algoritmos, seja porque chegamos a elas cansadas demais para dedicar atenção e presença. Em meio a tudo isso, um desafio: como trazer questões sensíveis e urgentes para a atenção das pessoas? Questões que, inclusive, ajudam a definir qual futuro nós teremos pela frente - ou não?
Gosto do que o Atlético Mineiro e o Bahia fizeram na última rodada do Campeonato Brasileiro: atravessaram o debate sobre clima e meio ambiente no caminho de atenção das pessoas.
Dois jogadores entraram em campo com uma bola de gelo, feita com água de reúso, simbolizando o planeta. Hulk e Everton Ribeiro a apresentaram para a torcida, posaram para fotos para a imprensa e em seguida a deixaram na beirada do campo. O derretimento que aconteceu durante a partida entre os times representou o aquecimento global. E pronto, a conversa alcançou a torcida, as redes sociais. Parte da imprensa. E olha eu aqui escrevendo sobre a ação dias depois de ela acontecer.
Ou seja, dá resultado, gera conversas. No site da campanha, Galo e Bahia convidam outros clubes brasileiros a se juntarem à causa. É sobre isso. Para visitar o site da campanha clique aqui. Ação foi alusiva ao 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente.
Dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) mostram que 93% dos municípios brasileiros sofreram por questões naturais entre 2013 e 2022. Mais recentemente vimos o aconteceu com nossas irmãs e irmãos do Rio Grande do Sul. Ou seja, ou falamos do colapso climático que nos espera ali na esquina. Ou em 5 minutos será tarde demais.
Essa e outras conversas precisam ocupar as redes sociais sim, a comunicação oficial dos governos sim, a boca das figuras públicas, sim, mas o mundo prático especialmente. Mundo prático é quem: quem não consegue ter tempo para estar nestes debates, para acompanhar tudo. Participar da conversa. E é aí que todas as coisas até aqui se encontram.
Ou os movimentos organizados passam a fazer isso, de atravessar as suas pautas no caminho das pessoas, de encontrar no dia a dia da população um fiozinho de atenção para suas conversas como o Galo e o Bahia fizeram, ou será cada vez mais o que temos debatido aqui e ali: estamos falando de nós para nós mesmas. E de quatro em quatro anos, aquele desespero que já é clássico: como conversar para além das nossas bolhas?
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