Por que falamos tanto de políticos e pouco de política?
Nos últimos anos, os políticos viraram conversas em mesa de bar, nas rodas de amizades. Em festas de família, nos finais de ano. Mas, nossa atenção, discussões e desacordos ainda estão concentrados nas figuras que ocupam os cargos. Você gosta deste, eu gosto daquela e, na maioria das vezes, fim de papo.
O debate ainda alcança pouco a política, como um sistema. Para bem do futuro, não chegou a hora de discutirmos as estruturas e os processos que organizam e sustentam o sistema político brasileiro? Há quem faça isso há algum tempo, de uma maneira que eu admiro. Contarei duas histórias.
Uma pesquisa feita alguns anos atrás apontou para as juventudes, tão diferentes de região para região, diferentes até mesmo dentro da mesma cidade, em busca de entender como elas se relacionam com a política, em todas as suas formas e níveis. Entre outras coisas, o Sonho Brasileiro da Política mostrou que 64% das 1.800 entrevistadas acreditavam que o tema tinha que ser discutido nas escolas. Com este dado nasceu o Jogo da Política, uma estratégia de formação da pesquisa que gameficou o funcionamento do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
Assim, jovens entre 18 e 32 anos de vários cantos puderam entender não somente o papel de cada um dos três poderes, mas as responsabilidades e limitações de alguém que se senta em alguma dessas cadeiras para estruturar projetos e leis que impactam as nossas vidas, aqui do outro lado da realidade. O Jogo da Política atravessou um assunto complexo e muitas vezes confuso para a maioria de nós, que é o funcionamento e as atribuições das nossas instituições, na vida das juventudes, com uma linguagem que elas entendem e dominam. Um jogo.
Agora, imagine, o que aconteceria na cultura política brasileira em 10 anos se todas as escolas do país tivessem um momento para entender o que diferencia o papel de um deputado federal de um senador? Por que temos 513 pessoas na primeira casa, enquanto contamos com 81 na segunda? E mais: como você e eu, pessoas comuns aí do dia a dia, podemos participar ativamente da construção de leis, nos rumos e decisões do país? Daí entra a segunda história, a Fast Food da Política.
Nascido em São Paulo pelos sonhos da Julia Carvalho, é um projeto que bebeu nessa fonte da gameficação e das experiências lúdicas para estimular conversas e maneiras de pensar o sistema político do país. Mergulhou ainda mais, ao menos para mim, neste princípio de que as coisas já são complicadas de entender para a maioria de nós. Então, que a gente distraidamente aprenda sobre elas como se estivesse brincando. Uma brincadeira séria demais para ficar nas mãos das mesmas pessoas de sempre, desde que a República está aí.
Com a Fast Food da Política você consegue reunir amizades para simular um debate político, por exemplo. Ou, usar bolinhas e baldes para entender o que é responsabilidade dos governos federal, estadual e municipal. Assim, nenhum candidato a prefeito conseguirá enganar eleitores dizendo que no seu governo vai dar um jeito na segurança pública, que é de responsabilidade de quem ocupa o cargo de governador.
Feito o Jogo da Política e a Fast Food é capaz que existam muitas outras ótimas ideias e jeitos de formar as pessoas politicamente. Se puder, comente por aqui as que você conhece. Porque é capaz que a gente escolha melhor se a gente souber o que faz cada cargo ou como nasce uma lei.
Já que estamos em época de pré-campanha, em que o céu é o limite para as intenções, fica aqui uma ideia para as candidaturas: que tal entrar para a história com uma política pública que educa as pessoas sobre o funcionamento das instituições políticas da sua cidade? Mas não vale aparelhar o Estado para ganhar com isso, combinado?
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