Tony Marlon

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Opinião

Filme reconta história do movimento Black Rio, marco na cultura do Brasil

A gente é a soma de todas as partes. E, ao assistir "Black Rio! Black Power!", você entende isso. Não fossem movimentos como o Black Rio, recontado no filme pelo olhar de Emílio Domingos, o mesmo diretor de "Chic Show" e "Batalha do Passinho", talvez o rap nunca tivesse me alcançado como alcançou, lá atrás. E se isso não tivesse acontecido, é capaz que eu não estivesse aqui, escrevendo o que você lê. A gente é uma longa história e muitas vezes nem sabe disso.

O documentário, que costura entrevistas e imagens de arquivo dos bailes que reuniam centenas de jovens cariocas, chega aos cinemas nesta quinta-feira (5) e reconta o nascimento e a ascensão do movimento Black Rio. Mergulha nos detalhes das festas, que fazem toda a diferença. É quase uma aula de como construir uma mobilização social, Surgido no Rio de Janeiro durante a década de 1970, o movimento é um marco na história cultural e política do Brasil.

Criado como uma resposta à opressão racial e social enfrentada pela população negra da época, o Black Rio não só revolucionou o cenário cultural e estético da cidade como também se tornou um símbolo político poderoso. Cresceu tanto, ficou tão politicamente importante, que foi investigado pelos órgãos da ditadura militar.

Asfilófio de Oliveira Filho, mais conhecido como Dom Filó, é uma das figuras centrais do movimento Black Rio. Fundador do Grêmio Recreativo de Arte Negra e Samba Quilombo, um dos primeiros grupos dedicados à valorização da cultura negra no país, é ele quem vai alinhavando a conversa que caminha por todas as dimensões das festas. Há entrevistas também com o escritor Carlos Alberto Medeiros, os músicos Carlos Dafé e Marquinhos de Oswaldo Cruz, e Rômulo Costa e Virgilane Dutra (da equipe Furacão 2000).

Dom Filó se tornou uma referência para muitos jovens negros que, nos bailes soul, encontraram um espaço de celebração, de fortalecimento da identidade e de resistência contra o racismo e as desigualdades sociais do dia a dia. A produção mostra isso. E este é um dos grandes presentes de filmes assim: informar e afirmar que pessoas feito Filó existiram e também nos trouxeram até aqui. O Brasil é um país que sabe bem quem escolhe esquecer. Ainda bem que os brasis insistem.

"O filme mostra uma juventude negra pioneira que se organizou e influenciou a cultura afro-brasileira, em meio a um período de grande ebulição política e sociocultural", aponta Emílio. "Hoje percebemos esta presença tanto na conscientização do hip hop, no movimento negro politicamente organizado e também nas tecnologias dos bailes como conhecemos até hoje". É isso: trata-se de uma tecnologia.

Ao longo do documentário você entende que a celebração da vida andava de mãos dadas com a formação social e política de quem aparecia nas festas. Havia sempre alguém tirando fotos que eram projetadas nas paredes da festa seguinte. Os registros exaltavam as pessoas, em comunhão. E reconheciam as belezas e potências, de cada uma delas.

Outro momento revelador do filme é quando é contado que se aproveitava o intervalo entre as músicas para se dizer frases de incentivo e inspiração. E foi assim, misturando leveza, diversão e formação política, que o Movimento Black Rio virou o que virou. Chegou em quem chegou. Chegou no tanto de gente em que chegou.

Nenhum exemplo resume melhor o que já trouxe aqui, mais de uma vez: precisamos recuperar a habilidade de atravessar as conversas urgentes e necessárias do nosso tempo na vida das pessoas. E o Black Rio fez isso de forma inspiradora e inesquecível. Este não é só mais um filme brasileiro, é mais um importante documento histórico dos Brasis.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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