'Passagrana': atores acreditam estar em filme, mas é um assalto. E um filme
Um terço da história contada em "Passagrana", filme brasileiro que estreou na quinta-feira (19), é contado pela sua própria história: cansados da vida de pequenos golpes pelas ruas do centro de São Paulo, quatro amigos decidem assaltar um banco. Farão isso sem que ninguém saiba que estão dentro de um crime tão ousado e arriscado. Ninguém, inclusive quem faz o assalto. Como isso é possível?
Outro terço pode ser colocado na conta de Zoinhu (Wesley Guimarães), Linguinha (Juan Queiroz), Mãodelo (Elzio Vieira) e Alãodelom (Wenry Bueno). Personagens que nos interessam logo de cara, atores que fazem você acreditar de verdade que aquelas pessoas existem, e existem mesmo. E você sai da sessão se importando com cada um, querendo saber mais sobre a vida de todos eles: viverão de qual jeito, deste roubo em diante?
Por último, "Passagrana" é uma história contada pela sua trilha sonora. Ela é o filme, também. O jeito de filmar, o jeito de montar as cenas. Há momentos que uma voz de fundo, de uma música ou apenas solta, ajuda a contar o que acontece na tela, no primeiro plano. Fazia tempo que não assistia a um filme tão bonitamente diferente. E o melhor: feito por nós, com as nossas ideias, com a nossa estética. Com o nosso jeito brasileiro de fazer cinema. "Passagrana" é dirigido pelo Ravel Cabral.
Em entrevistas aqui e ali, Ravel falou mesmo que a produção é um heist, o nome que se dá para filmes que contam histórias de assalto a banco. Mas, um heist tropical, para o nosso jeito. E é por isso que você vai se surpreender com os minutos finais, quando estiver acreditando que tudo se resolveu e todos viveram felizes para sempre. Não se levante.
Porque, imagine, tudo que pode acontecer quando amigos que improvisam a vida pelas ruas enganando pessoas decidem que o melhor jeito de fazer um assalto a banco é convencendo um grupo de atores e atrizes de que nada daquilo que irão viver é real. É tudo um grande e aguardado filme, que de tão realista, será feito numa agência bancária no centro de São Paulo. Em horário comercial. Imaginou?
Numa das melhores cenas de "Passagrana", o chão está marcado com o mapa da agência e o grupo ensaiando: aqui fica o gerente, ali o segurança. A cena é assim. Uma das artistas, vendo o chão riscado, diz: bem Lars von Trier, não é? Quem assistiu a "Dogville" vai rir na hora, isso é uma certeza.
"Passagrana" é um filme que merece mais atenção. Escrevo para dizer que ele existe e está nos cinemas. É tão bom do começo ao fim que você nem percebe o tempo passar, de tão envolvida. É tão sonoro e vibrante, que quando se distrair da história na tela é porque sua mente acreditou por alguns segundos que você estava num baile, numa festa. Num sábado à tarde.
"Passagrana" é um sopro diferente, para quem não aguenta mais as histórias sendo contadas do mesmo jeito. Você o assiste e se pergunta: por que não fazem mais coisas assim? Ou será que fazem e eu nem fico sabendo? Viva o cinema brasileiro.
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