Jovem viraliza usando forró para ensinar idosos a ler e escrever
Neto de Zé Branquinho e de Dona Dodô, Wellington Silva, o Nininho, chegou para a nossa conversa surpreendido com o tanto de atenção que anda recebendo nas redes sociais nos últimos dias. Não para de responder a mensagens emocionadas, de todos os cantos.
Uma de suas aulas de alfabetização em Monte Santo, no sertão baiano, viralizou. No vídeo, um grupo de adultos dança forró, cultura importante demais para a região. O detalhe está no chão: no ritmo da música, a turma é estimulada a apontar quais são as vogais que estão sendo cantadas. Os movimentos que divertem são os mesmos que ensinam, e é assim que as pessoas vão aprendendo, dia sim, dia também.
"Eu acredito no poder da ludicidade na educação. Percebo que as pessoas aprendem mais quando fazemos algo prático, e aí depois é que a gente traz os nomes daquilo que estamos estudando", diz o jovem professor de 24 anos, que está há menos de um ano em sala de aula. Parece uma vida inteira.
Nininho é um dos profissionais que dão vida a uma política pública nacional chamada EPJAI (Educação de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas). O programa é uma das estratégias do Governo Federal para estimular a conclusão dos estudos, especialmente nas zonas rurais. Caso de onde ele ensina, em que a maioria da sala é de agricultoras que tiveram seu direito à educação atravessado pela necessidade de botar o sustento na mesa. É o público que emociona e inspira o educador.
Muitos jovens se sentem envergonhados de estar em meio aos idosos. Comigo acontece o contrário. Quando eu estou com eles, a minha alma aflora. Quando estou ali eu me sinto orgulhoso, me sinto único. Wellington Silva, o Nininho
O interesse de Nininho vem de longe. Toda história nasce em algum lugar.
Há 8 anos ele lidera voluntariamente o Grupo da Saudade, criado pela sua família para cultivar e levar adiante as tradições de Monte Santo: as quadrilhas, os reisados. As atividades envolvem especialmente as pessoas mais velhas da cidade. Assim, ele foi se atentando mais e mais a elas. Sempre acompanhou as tias, como um aluno em tempo integral de tudo aquilo. Com a passagem de ambas, precisou puxar a responsabilidade para si.
"Quando tia Valdeci e tia Nêga faleceram, eu fiquei pensando em quem iria levar a nossa cultura adiante". Foi aí que virou um coordenador geral da iniciativa. Também pela necessidade.
Eu tenho medo de que em dez anos as nossas tradições tenham desaparecido. As juventudes de hoje não querem participar das atividades. Sentem vergonha. E a nossa cultura é algo tão lindo.
É desse encontro, nessa mistura entre a cultura e a educação, que acontece desde a sua infância, que Nininho vai criando as ideias que tem. Elas, sempre tão cheias de leveza, de arte. Elas, tão preocupadas antes de tudo com quem aprende, na maneira em como as pessoas aprendem. A gente aprende diferente umas das outras.
"Meu trabalho acontece em casa, no planejamento das aulas. Quando eu os encontro, aí eu vou é brincar. E é neste brincar que todo mundo aprende as coisas que são planejadas". Tudo alinhado ao que é previsto nas diretrizes da EPJAI, naquilo que recebe de orientação dos profissionais da Secretaria de Educação. "O que eu faço é deixar o que precisa ser ensinado mais leve. Eu ensino usando a realidade de cada pessoa", explica. Pode até parecer simples, mas não é.
Quando traz o forró para o processo de alfabetização, as encenações de teatro ao falar das matérias de História ou Geografia, quando recria as brincadeiras tradicionais que aquelas pessoas tanto conhecem, mas agora para aprender ciências e matemática, Nininho constrói pontes entre o conhecimento e o dia a dia das pessoas. Com as referências delas. Quem esquece que aprendeu qual é a letra A escutando o forró que mais ama no mundo?
"Eu sou fruto da educação, foi ela quem me salvou. Eu acredito que, se deu certo comigo, vai dar certo com essas pessoas que já lutaram tanto. Já com seus 60 e tantos anos", finaliza.
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