Tony Marlon

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Opinião

Por que mandar flores a quem se candidatou este ano?

A política institucional como lugar do cinismo e da violência, isso eu recuso. Aquela dos fraudadores da esperança, da ética e do bom debate.

Eu recuso a política que tem como um hábito destruir reputações. Mentir como se desse um bom dia. Aquela política que diz o que uma pessoa nunca disse, que faz uma palavra caber na boca do outro à força. Só para tirar vantagem. A pessoal, sempre.

Eu recuso a política do vale tudo, da performance no lugar da presença. Do desvio do que realmente importa, das palavras e expressões difíceis de se entender. Eu recuso aquela política que não sabe falar com quem saiu de casa às 5h, para trabalhar. E precisa muito saber se terá ônibus pra voltar para as filhas e filhos. E você, recusa essas políticas também?

É que a política é o exercício prático da esperança e do existir coletivo. Eu escrevo que é porque é assim que escolhi vê-la até nos dias mais difíceis dos nossos legislativos. Nos meses mais truculentos dos nossos executivos. A esperança é uma decisão.

Há em curso um movimento, já de algum tempo, de criminalização da política como este instrumento de negociar as nossas diferenças em favor de um melhor mundo para todos nós ao mesmo tempo. Junto, uma mesma criminalização dos políticos, que são as pessoas que operam esse debate e essa construção. A quem interessa que isso aconteça? O que é que fica no lugar?

Eleição após eleição surgem nomes que sintetizam única e exclusivamente projetos individuais de poder. Disfarçados de: "Vocês me preocupam", "Vocês me importam". É fácil reconhecer alguém assim, de longe.

Essas pessoas se dizem antipolítica e antipolíticos, o que por si só não faz sentido algum: participar de um processo eleitoral é fazer política. As roupas que você e eu escolhemos vestir hoje de manhã são um gesto político. Insistem, pois sabem que existe uma exaustão no ar. A tarefa da década é recuperar o encanto.

Desde alguns anos atrás passei a conhecer cada vez mais pessoas que colocam as suas vidas à disposição de um processo político eleitoral. São pessoas de carne, osso e sonhos, que eu encontro na feira. Trabalhadoras da saúde e da cultura. Professores da educação pública. Gente que acredita de verdade naquilo que o professor Mário Sérgio Cortella disse uma vez: "Vida é algo para engrandecer a mim e a quem está ao meu redor". E a nossa ferramenta institucional para fazer isso é a política.

Essas pessoas se jogam em campanhas difíceis demais com recursos de menos. Elas mesmas entregam panfletos, vão na gráfica buscar as camisetas. Suas famílias que se ajuntam ao redor para, voluntariamente, mover essa pessoa para dentro dos espaços de poder e decisão. A grande maioria fica de fora.

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Chega naquele dia depois da votação sem alcançar a cadeira que almejou tanto precisando descansar um pouco, respirar um pouco. Falar de outras coisas, para além do processo eleitoral. Não sei o quanto todas nós aqui sabemos, mas uma campanha eleitoral é algo absurdamente desgastante. Físico e emocionalmente.

Se você conhece alguém em quem confia muito, alguém que decidiu se candidatar este ano, que fez campanha este ano, escreva pra ela. Entregue algum mimo, presentinho, agora que tudo acabou. Um buquê de flores. Grave uma mensagem cuidadosa dizendo que você está aqui, do outro lado da eleição, para voltar a falar de futebol, da novela das nove. Sobre qualquer coisa.

Se política não é profissão, e não é mesmo, a candidatura de uma pessoa não é a pessoa. Eleita ou não, ela continuará sendo a filha de alguém, o sobrinho de alguém. Uma pessoa, que muitas vezes só precisa de um abraço quando tudo isso acabar, como já acabou.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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