Estado brasileiro poderia dar mais dignidade aos professores
Eu só li "Vidas Secas", do Graciliano Ramos, uma primeira vez porque o professor Jairo nos disse que seria impossível passar pela vida sem conhecer a história de Baleia e Fabiano. Não fosse o professor Celso, de física, ainda no ensino médio, eu nunca teria sabido que, para ser jornalista, uma pessoa precisa se interessar em tudo pelo mundo. Não ter preconceito com nada, nem ninguém, que encruzilhe o seu caminho.
Ele foi a primeira pessoa que me explicou o que era um vestibular. Em troca, eu sempre tirei notas horríveis em sua matéria. Palavras sempre me contaram uma história que eu não conseguia encontrar nos números.
Não fosse a Juliana, de ciências, eu não teria aprendido tanto sobre respeitar as vidas que brotam ao nosso redor. Tudo vivo. Nem sobre o que a falta de água no corpo faz acontecer, com as dores de cabeça e tudo mais. Havia a Gisele, de português. E a outra Gisele, de geografia. O professor Marco Antonio, de inglês, foi o primeiro a transformar a aula em algo lúdico, leve e divertido. Ele usava as letras dos sucessos pop, que todo mundo adorava, para ensinar gramática e pronúncia. Ele explicava: "Este jeito de falar é dos Estados Unidos. Este outro é da Inglaterra."
A Dora passou pela minha vida ensinando que um computador só faz aquilo que eu peço. "Não tenha medo, Tony. Pode clicar. É você quem está no controle". O Júlio, também de informática, que me fez entender a internet como um lugar infinito em possibilidades. "Hoje vamos tentar não ficar só na Rádio UOL, tá?". O Joilson nos apresentou esportes além do futebol, nas aulas de educação física. A Neidinha, da aula de cidadania, me ensinou que eu sou um sujeito de sonhos, direitos e responsabilidades.
Tem a Solange. Um dia, ela puxou uma cadeira na minha frente, sentou-se e, calmamente, disse: "Se você se comprometeu com algo, mas não quer mais seguir com aquilo, avise a todos os envolvidos. Não é certo simplesmente desistir e ir embora, sem dizer nada". Foi o que fiz e é o que busco fazer desde aquele dia.
No Brasil, o 15 de outubro é o Dia do Professor e da Professora. Momento de celebrar a existência e a insistência dessas pessoas que decidiram doar seu tempo de vida para circular o conhecimento a quem está chegando no mundo. É um bom momento, também, para nos perguntarmos como sociedade quando essa categoria será prioridade para o Estado brasileiro.
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